Artigo de opinião escrito por Elizabeth Frawley Bagley, embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, e publicado no Jornal O Globo no dia 23 de fevereiro de 2023.
A tentativa da Rússia de subjugar seu vizinho e redesenhar as fronteiras da Ucrânia pela força é uma violação clara e flagrante da ordem internacional
Faz um ano que a Rússia iniciou sua invasão brutal e de grande escala na Ucrânia. O legado russo é claro: aproximadamente 15 milhões de ucranianos foram internamente deslocados ou vivem como refugiados, cerca de 10 mil civis foram mortos, incluindo crianças, e dezenas de milhares ficaram feridos. A Rússia separou milhares de crianças de seus pais, saqueou e destruiu patrimônio cultural, infraestrutura, usinas de energia, cidades e agricultura na Ucrânia, devastando importantes cadeias de suprimento de alimentos para a Europa, África e outras partes do mundo. As consequências da agressão injustificada da Rússia são devastadoras — causando um aumento acentuado da insegurança alimentar para os mais vulneráveis do mundo.
Entre 12 e 18 milhões enfrentam insegurança alimentar devido ao aumento nos preços de alimentos, combustíveis e fertilizantes e à incerteza em torno das exportações de grãos, oleaginosas, óleos vegetais e trigo da região do Mar Negro após a invasão brutal da Rússia. O Programa Mundial de Alimentos estima que o número de pessoas em insegurança alimentar severa atingiu um recorde de 349 milhões, acima dos 287 milhões em 2021, em parte devido à escolha da Rússia de invadir seu vizinho.
É praticamente impossível analisar esses números e não ficar estarrecido com a disposição de Putin em violar a Carta da ONU e os princípios de soberania e integridade territorial nela consagrados. Os próximos 12 meses não podem ser como os últimos. A tentativa forçada da Rússia de subjugar seu vizinho e redesenhar as fronteiras da Ucrânia pela força é uma violação clara e flagrante da ordem internacional baseada em regras que tornou o mundo mais seguro e próspero por décadas. Uma coisa é clara: se a Rússia parar de lutar e se retirar, a guerra termina. Se a Ucrânia parar de lutar, a Ucrânia acaba.
Hoje também saudamos o espírito dos ucranianos na defesa de seu país, sua democracia e sua liberdade — e para reconhecer a imensa resposta internacional à agressão da Rússia. Somos movidos por um compromisso de proteger a liberdade, a determinação, os valores democráticos, a soberania e a integridade territorial e a segurança global. Também nos inspiramos pela notável coragem e determinação do povo e sabemos que sua luta é parte de algo muito maior. Os ucranianos precisam e merecem nosso apoio coletivo e os melhores esforços para alcançar uma paz justa e duradoura.
As medidas econômicas impostas pelos Estados Unidos e seus parceiros são especificamente projetadas para promover a responsabilização pelas ações da Rússia, mitigando seu impacto noutras economias. Hoje a Rússia conta com o apoio de países como Irã e Coreia do Norte, enquanto a Ucrânia é apoiada por mais de 120, que coletivamente forneceram mais de R$ 600 bilhões em segurança e assistência humanitária e econômica. A Ucrânia conta com o apoio de amigos como os Estados Unidos e outros países que contribuem para uma ampla gama de esforços na defesa da democracia e da independência, da soberania e da integridade territorial do país com base no princípio: os problemas da Ucrânia não podem ser solucionados sem a Ucrânia.
O Brasil está entre os muitos países que acolheram refugiados neste momento de ânsia. Aplaudimos os esforços de boa-fé dos parceiros para ajudar a alcançar a justiça e a paz que cada cidadão ucraniano merece e para ajudar a restaurar a segurança na região e garantir uma maior estabilidade econômica no mundo. Como o presidente Biden disse, “estamos falando sobre liberdade. Liberdade à Ucrânia. Liberdade em todos os lugares”.