Declaração
Michael R. Pompeo
Secretário de Estado
Ministério das Relações Exteriores
Brasília, Brasil
2 de janeiro de 2019
MODERADOR: (Via intérprete) Anunciamos a presença do ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Ernesto Araújo, acompanhado do secretário de Estado dos Estados Unidos da América, Mike Pompeo.
Neste momento fará uso da palavra o ministro de Estado das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, embaixador Ernesto Araújo.
MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES ARAUJO: Bom dia a todos. Temos hoje o prazer de receber aqui no Itamaraty, em nosso primeiro dia de trabalho, o secretário de Estado dos Estados Unidos da América, Mike Pompeo.
Acabamos de ter uma excelente conversa sobre como implementar o propósito do presidente Bolsonaro de construir uma parceria muito mais intensa, muito mais elevada entre o Brasil e os EUA. Trocamos várias ideias sobre como fazê-lo. Mas já identificamos uma determinação e uma convicção comum de que este é o caminho para a nossa relação.
Temos várias ideias concretas que estamos começando a discutir, que vamos continuar a discutir nos próximos dias sobre essa implementação de uma nova parceria e ao mesmo tempo também trocamos ideias sobre nossa visão de mundo, nossa visão de como trabalhar juntos pelo bem, por uma ordem internacional diferente, por uma ordem internacional que corresponda aos valores dos nossos povos. Então, gostaria de dizer, que estamos no começo de uma nova etapa que será muito produtiva, tenho certeza, à relação entre Brasil e EUA, uma etapa que vai criar instrumentos concretos, que vão ajudar a nossa economia, no caso do Brasil, a gerar empregos, a gerar novas oportunidades de negócios, a gerar novas iniciativas em todas as áreas e aproveitando muito trabalho que já foi feito. Mas criando uma dimensão muito mais intensa, muito mais produtiva, tenho certeza, na nossa relação.
Agora passo a palavra ao secretário Mike Pompeo.
SECRETÁRIO POMPEO: Ótimo, obrigado. Bom Dia. É ótimo estar aqui. Foi um privilégio incrível testemunhar ontem dezenas de milhares de pessoas ao longo das ruas quando cheguei ao Congresso Nacional. Foi sincero. Foi autêntico. As expectativas do povo brasileiro são altas e merecidas. Quero felicitar o presidente Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, por seus novos papéis. Estamos felizes em trabalhar ao seu lado. Sabemos que o senhor pretende tornar o Brasil uma nação mais segura e próspera e, por favor, saiba que tem os Estados Unidos como seu parceiro ao fazê-lo.
Hoje tivemos a chance de falar sobre a relação bilateral entre nossos dois países. Acreditamos que a oportunidade entre o presidente Trump, o presidente Bolsonaro e as nossas duas equipes cria uma oportunidade verdadeiramente transformadora para as nossas duas nações, para os nossos dois povos. E nós, nos Estados Unidos, estamos comprometidos em trabalhar ao lado de vocês para fazer isso em muitas áreas, certamente em áreas econômicas, garantindo que as empresas de nossos dois países tenham grandes oportunidades, mas também uma colaboração mais profunda na área de segurança. O Fórum Permanente Brasil-EUA, lançado no ano passado, oferece uma ótima base para aumentar ainda mais essas oportunidades.
E sabemos também que teremos a oportunidade de trabalhar lado a lado contra regimes autoritários em todo o mundo. Se anuncia — da mesma forma que hoje anuncia um novo começo no Brasil, também marca 60 anos do dia da repressão de políticas fracassadas em Cuba. E tivemos hoje a chance também de falar sobre as ameaças que emanam da Venezuela e nosso profundo desejo de devolver a democracia também ao povo venezuelano.
Vou encerrar com esse pensamento: Se fizermos isso bem, poderemos melhorar a vida do povo do Brasil, do povo dos Estados Unidos e dos cidadãos de todo o mundo trabalhando juntos, cooperando. E a administração Trump está determinada a fazer isso ao seu lado. Obrigado por me receber aqui nestes últimos dois dias. Foi um grande privilégio e estou entusiasmado com a nova administração e com tudo o que podemos fazer nos próximos dias e semanas.
Obrigado, senhor ministro das Relações Exteriores.
MODERADOR: (Através do intérprete) Neste momento, abriremos esta declaração à imprensa, às perguntas dos jornalistas. Da imprensa brasileira, o jornalista Roberto Kovalick, da TV Globo.
PERGUNTA: Sr. Secretário, bom dia.
SECRETÁRIO POMPEO: Bom dia.
PERGUNTA: Senhor secretário, minha pergunta é: Que tipo de papel o presidente Trump espera que o Brasil tenha nos próximos anos? E dois campos que o senhor já mencionou, mas se pudesse se aprofundar, eu apreciaria: Primeiro, Venezuela e Cuba. Uma operação militar está na mesa ou algo desse tipo com a ajuda do Brasil? E em termos de negócios, o presidente Trump disse há alguns meses que o Brasil é um lugar difícil de fazer negócios e às vezes é um pouco injusto com as empresas americanas. Isso vai mudar?
Ministro, bom dia. Para o senhor eu gostaria de perguntar o seguinte: o senhor também já mencionou em relação à cooperação com os EUA. Na campanha eleitoral, o presidente Bolsonaro e o senhor em seus artigos, no seu blog várias vezes falou a respeito de um posicionamento mais pragmático e não ideológico. Porém, esse alinhamento com os EUA parece, a alguns analistas, um tanto excessivo. Afinal, quais as prioridades do Itamaraty em termos de alinhamento? O senhor falou nas suas palavras agora que isso representa um ganho para o Brasil em termos comerciais, mas muitos analistas acham que as opções que estão sendo escolhidas são pouco ideológicas e podem representar riscos comerciais para o Brasil. Afinal, quais são as prioridades nos próximos anos? Muito obrigado.
SECRETÁRIO POMPEO: Então, se eu puder? Sim. Então deixe-me tentar elaborar um pouco em resposta à sua pergunta. No que diz respeito a questões de segurança, é quase sempre o caso de as nações trabalham melhor quando vêm de um conjunto de valores compartilhados, e é isso que encontramos hoje. Achamos que o povo da América e o povo do Brasil têm um conjunto de valores compartilhados em democracia, liberdade. Eu assisti a transição pacífica de poder ontem. Isso não acontece em todo o mundo e em muitos países. Você identificou Cuba. Nós falamos sobre a Venezuela e a Nicarágua. Estes são lugares onde as pessoas não têm a oportunidade de expressar seus pontos de vista, de falar o que pensam, de obter um governo que seja responsivo a eles. Estes são os tipos de coisas com que pretendemos trabalhar juntos.
E então você estava falando sobre modalidades, se há uma operação. O que há é um entendimento comum desse compromisso de trabalhar de perto com parceiros que compartilham o conjunto de valores americanos. E, para a economia, às vezes é difícil para as empresas americanas fazerem negócios no Brasil, às vezes é difícil para as empresas brasileiras fazerem negócios na América também.
O objetivo do Presidente Trump é muito claro. Queremos um conjunto de relacionamentos – relações econômicas – ou chame como quiser. As pessoas usam as ideias dos TLCs e afins, mas o importante é que as relações, as relações econômicas, proporcionem às empresas e aos cidadãos de nossos dois países uma oportunidade real e justa, que seja recíproca, conduzida de maneira transparente. Não é o mesmo modelo que é usado por alguns outros países do mundo. Estas devem ser transações comerciais dirigidas por economias que tornam as vidas melhores para as pessoas de nossos dois países, não impulsionadas por imperativos políticos de outros que querem vir para um país e fazer um investimento não por razões comerciais, mas por razões políticas, para alcançar resultados políticos. Se nossos dois países compartilharem essas metas, estou confiante de que nos próximos dias e semanas, teremos um bom resultado nesses itens para o povo brasileiro e para os EUA.
Senhor ministro das Relações Exteriores
MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES ARAÚJO: Obrigado. Bem, sobre a questão do alinhamento, eu gostaria de dizer que, na verdade, o Brasil está se realinhando consigo mesmo. O Brasil está se realinhando com seus próprios valores e com seus próprios ideais, e o Itamaraty está se realinhando com o povo brasileiro, e a nossa política externa está se realinhando com o povo brasileiro, e o reflexo disso é que nós nos aproximaríamos daqueles grandes países, pequenos e todos os países que comungam desses ideais. Portanto, a nova relação com os EUA é uma consequência desse realinhamento interno no Brasil e com outros países igualmente.
Sobre a questão de um eventual conflito entre nossos interesses comerciais e nossa atuação nessa esfera de valores, eu acho que não é um problema para um país grande. O Brasil tem que se colocar como um grande país. Um país grande tem condições e precisa, ao mesmo tempo, trabalhar no mundo em favor dos seus valores e dos ideais do seu povo e trabalhar pelo crescimento econômico e fazer negócios e gerar oportunidades comerciais e econômicas. Mas acreditamos que é perfeitamente possível, que é nosso dever, fazer as duas coisas, e que um país grande não precisa renunciar aos seus valores, às suas ideias para criar oportunidades econômicas. Obrigado.
MODERADOR: Da imprensa norte-americana, a jornalista Mary Milliken.
PERGUNTA: Bom dia. Partes da sociedade civil do Brasil expressaram preocupação sobre uma possível perda de proteção para os direitos humanos sob este novo governo. Sr. Secretário, o senhor compartilha essas preocupações? E Sr. Ministro, o senhor tem uma resposta?
E se eu puder, Sr. Secretário, sobre o americano detido em Moscou, o senhor acredita que isso é uma retaliação pelo caso Maria Butina, e o que o senhor pretende fazer sobre isso?
SECRETÁRIO POMPEO: Ministro das Relações Exteriores, vou deixá-lo falar primeiro sobre a questão dos direitos humanos e darei sequência à ela e depois responderei à pergunta final.
ARAÚJO, MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES: Não há razão nenhuma de haver qualquer receio de qualquer diminuição de proteção dos direitos humanos no Brasil.
Na verdade, eu deveria falar em português. Não há motivos para temer qualquer diminuição de proteção de direitos humanos no Brasil. Isto é simplesmente um resquício de contos da campanha eleitoral que ainda sobrevive por alguma razão. O compromisso do novo governo com a defesa dos direitos humanos é absoluto, inclusive aumentar a defesa de alguns direitos que não estão sendo suficientemente defendidos. Já tenho falado sobre isso com a ministra dos Direitos Humanos. E é uma área onde não só continuaremos trabalhando, mas trabalharemos de maneira mais incisiva, inclusive, para a proteção dos direitos de todos os brasileiros. Obrigado.
SECRETÁRIO POMPEO: Obrigado. Eu acrescentaria apenas isto: os Estados Unidos estão sempre conscientes de garantir que os países tratem cada um de seus cidadãos com dignidade e respeito. Isso não acontece em todos os lugares do mundo. Onde achamos que é inadequado, nós o chamamos a atenção sobre o fato. Somos muito coerentes com isso e fazemos o melhor possível para que, para deixar claro que é inaceitável, esperamos que cada país se comporte de uma maneira que trate seus cidadãos com a dignidade e o respeito que eles merecem como seres humanos. Esperamos que em todo o mundo. Isso certamente inclui aqui. E nossa conversa esta manhã deixa claro para mim que esta administração também está comprometida com isso.
Com relação ao Sr. Whelan, que está sendo detido, esperamos que nas próximas horas tenhamos acesso consular para vê-lo e ter a chance de saber mais. Nós deixamos claro para os russos nossa expectativa de que procuraremos saber mais sobre as acusações, entenderemos do que ele é acusado e, se a detenção não for apropriada, exigiremos seu retorno imediato.
MODERADOR: (Através do intérprete) Está encerrada a declaração à imprensa.