Discurso da Embaixadora Elizabeth Frawley Bagley no Dia da Independência de 2023

Discurso proferido no dia 22 de junho de 2023 na casa de recepções Villa Apipucos, Recife-PE

Boa noite a todas as pessoas presentes, e muito obrigada por participarem da nossa comemoração do Dia da Independência. Como podem ver, trabalhamos bastante para trazer a vocês o espírito e o sabor das comemorações do 4 de julho do nosso país, incluindo até hambúrgueres, Coca-Cola e sorvete da McDonald’s. Todos absolutamente deliciosos!

É maravilhoso retornar ao Recife para minha segunda visita.

Como muitos de vocês sabem. há 28 anos fui nomeada embaixadora em Portugal. Os vizinhos de quem me tornei mais próxima não eram portugueses, mas sim brasileiros. Ele e sua esposa me ajudaram a mergulhar em sua incrível cultura, começando pela música. Tenho ótimas lembranças de ouvir Tom Jobim, Elis Regina, Gilberto Gil, Chico Buarque e muitos outros cantores na casa dessa família em Sintra, Portugal. A cada dia que passava, aprendia algo novo sobre o Brasil, mas foi só quando cheguei aqui no país que descobri o quanto ainda tinha a conhecer.

No Recife, aprendi o significado de hospitalidade. Mas também fui ao Rio de Janeiro e a São Paulo, e percebi que a recepção calorosa não era exclusiva do Nordeste – está em todo o Brasil. A gentileza e a hospitalidade são valores que os nossos países compartilham, pois ambos temos uma longa tradição de abrir nossas portas para receber os outros. Ao conhecer cada vez mais as pessoas aqui do Brasil, tenho visto ainda mais evidências dos valores que temos em comum por meio das palavras e expressões que usamos.

Deixe-me dar um exemplo. Uma dessas expressões é “Coração de mãe sempre cabe mais um “, ou em inglês, “There’s always room for one more” (Sempre há espaço para mais um). Como dois dos países mais diversificados e ricos em recursos do mundo, sabemos o valor de incluir todas as pessoas.

Há apenas um mês, a embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas, Linda Thomas Greenfield, visitou o Brasil para destacar a retomada de nosso Plano de Ação Conjunta para Eliminar a Discriminação Racial (JAPER), o primeiro acordo bilateral especificamente voltado para o combate ao racismo.

Não é por acaso que isso foi desenvolvido entre nossos países. Tanto o governo Lula quanto o governo Biden deram grandes passos para incluir pessoas sub-representadas no governo e na educação e criar mais oportunidades econômicas. Esses avanços se aplicam não apenas a pessoas negras, mas também a mulheres, povos indígenas, comunidade LGBTQIA+ e outras. Representatividade importa.

Vou contar uma história que ainda me enche de orgulho e riso.

Quando eu era embaixadora em Portugal, meu filho tinha apenas quatro anos de idade. Estávamos sentados no avião esperando para deixar Portugal pela última vez, e perguntei se ele gostaria de ser embaixador um dia. Eu lhe disse que era um trabalho muito importante, no qual você tinha o poder de fazer a diferença. Sua resposta foi: “Não, mamãe, isso é só para meninas!”

É importante ver mulheres e pessoas de grupos minorizados no poder, e fiquei muito feliz quando o Brasil confirmou a primeira mulher como embaixadora nos Estados Unidos há algumas semanas. Mas a luta nunca termina, e ainda temos muito trabalho a fazer.

O que me leva a outra expressão que ouvi aqui no Brasil, que representa nossa persistência: “Água mole em pedra, dura, tanto bate até que fura.” Em inglês, diríamos “water dripping day-by-day wears the hardest rock away”.

Muitas vezes, na diplomacia e no governo, lidamos com questões de longo prazo. Isso se aplica à luta pela igualdade, solução da crise climática, eliminação da pobreza e combate à fome, em que pequenas ações no decorrer do tempo fazem a diferença em um futuro distante.

Em fevereiro, o enviado especial do presidente dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, um amigo meu de longa data, veio ao Brasil para promover as prioridades climáticas que os presidentes Biden e Lula discutiram em Washington. Após essa visita, o presidente Biden reafirmou nosso compromisso com uma promessa de 500 milhões de dólares para o Fundo Amazônia. Posso dizer que a ministra Marina Silva e eu esperamos que o Kerry volte em breve!

Parabenizamos a liderança do Brasil no enfrentamento da crise climática. Seus esforços recentes para combater o desmatamento e as mudanças climáticas, incluindo o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, são passos cruciais para preservar as florestas e restaurar as terras das quais toda a humanidade depende, incluindo a bela Mata Atlântica, presente onde celebramos hoje. Estou confiante de que veremos os frutos desses esforços.

Uma coisa que eu não gostaria de ter visto em nossos países foram os acontecimentos dos dias seis e oito de janeiro. No entanto, saímos mais fortes e unidos. Grande parte de meus amigos e amigas do Brasil expressaram sincero apreço pela resposta imediata da comunidade internacional – incluindo boa parte de vocês aqui – para condenar os ataques. Os Estados Unidos sempre estarão ao lado do Brasil para apoiar a democracia, instituições democráticas e a vontade do povo.

Para encerrar, gostaria de mencionar uma das primeiras palavras que aprendi em português. Esta palavra  não tem tradução literal para o inglês.

Essa palavra é “saudade”. A melhor tradução em inglês é “nostalgia” ou ” longing for home “. Após poucos meses aqui, o Brasil já é um lar para mim. E agora, nos momentos em que estou fora do país, sei – ou melhor, sinto – o verdadeiro significado da palavra “saudade”.

Muito obrigada!