Discurso da embaixadora Frawley Bagley em São Paulo pelo Dia da Independência de 2023

Boa noite a todas as pessoas presentes, e muito obrigada por sua presença em nossa comemoração do Dia da Independência. Como podem ver, trabalhamos bastante para trazer a vocês o espírito e o sabor das comemorações do 4 de julho do nosso país, incluindo até cachorros-quentes da Nathan’s e o delicioso churrasco americano oferecido pela Marfrig. Eles estão realmente deliciosos!

Gostaria de agradecer as 68 empresas americanas e brasileiras que fizeram dessa noite um grande sucesso através de patrocínio financeiro e doações. Sem o seu apoio, este evento não seria possível.

Como muitas pessoas aqui sabem, há 28 anos fui nomeada embaixadora em Portugal. O vizinho de quem me tornei mais próxima não era português, mas sim brasileiro. Ele e sua esposa me ajudaram a mergulhar em sua incrível cultura, começando pela incomparável música. Tenho ótimas lembranças de ouvir artistas como Tom Jobim, Elis Regina, Gilberto Gil e Chico Buarque na casa dessa família em Sintra, em Portugal. A cada dia que passava com essa família, aprendia algo novo sobre o Brasil, mas foi só quando cheguei aqui no país que descobri o quanto ainda tinha a explorar. E tive o privilégio de ouvir Chico Buarque ao vivo em minha segunda visita a São Paulo com meu acompanhante predileto, David Hodge!

Em minha visita a Salvador, aprendi o significado de hospitalidade. Mas logo depois fui para o Rio, depois vim para São Paulo e percebi que a recepção calorosa não era exclusiva da Bahia – está em todo o Brasil.  Generosidade de espírito e hospitalidade são valores que os nossos países compartilham, assim como os valores de liberdade, igualdade e Estado de Direito. Ao conhecer cada vez mais as pessoas aqui do Brasil, tenho visto ainda mais evidências dos valores que temos em comum por meio das palavras e expressões que usamos.

Deixe-me dar um exemplo. Uma dessas expressões é “Coração de mãe sempre cabe mais um”, ou em inglês, “There’s always room for one more” (Sempre há espaço para mais um). Como dois dos países mais diversificados e ricos em recursos do mundo, sabemos o valor de incluir todas as pessoas.

Há apenas um mês, a embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas, Linda Thomas Greenfield, visitou o Brasil para destacar a retomada de nosso Plano de Ação Conjunta para Eliminar a Discriminação Racial, JAPER, o primeiro acordo bilateral especificamente voltado para o combate ao racismo.

Não é por acaso que isso foi desenvolvido entre nossos países. Tanto o governo Lula quanto o governo Biden deram grandes passos para incluir pessoas sub-representadas no governo e na educação, e para criar mais oportunidades econômicas. Esses avanços se aplicam não apenas a pessoas negras, mas também a mulheres, povos indígenas, comunidade LGBT+ e outras. Representatividade importa.

Vou contar uma história que ainda me enche de orgulho e riso.

Quando eu era embaixadora em Portugal, meu filho Conor, que está aqui comigo esta noite, tinha apenas quatro anos de idade. Estávamos sentados no avião esperando para deixar Portugal pela última vez, e perguntei se ele gostaria de ser embaixador um dia. Eu lhe disse que era um trabalho muito importante, no qual você tinha o poder de fazer a diferença. Sua resposta foi: “Não, mamãe, isso é só para meninas!”

É importante ver mulheres e pessoas de grupos minorizados no poder, e fiquei muito feliz quando o Brasil confirmou a primeira mulher como embaixadora para os Estados Unidos há algumas semanas. Mas a luta nunca termina, e ainda temos muito trabalho a fazer.

Muitas vezes, na diplomacia e no governo, lidamos com questões de longo prazo. Isso se aplica à luta pela igualdade, solução da crise climática, eliminação da pobreza e combate à fome, em que pequenas ações no decorrer do tempo fazem a diferença no futuro.

Em fevereiro, o enviado especial do presidente dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, um amigo meu de longa data, veio ao Brasil para promover as prioridades climáticas que os presidentes Biden e Lula discutiram em Washington. Após essa visita, o presidente Biden reafirmou nosso compromisso com uma promessa de 500 milhões de dólares para o Fundo Amazônia.

Parabenizamos a liderança do Brasil no enfrentamento da crise climática. Seus esforços recentes para combater o desmatamento e as mudanças climáticas, incluindo o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, são passos cruciais para preservar as florestas e restaurar as terras das quais toda a humanidade depende, incluindo o belo Pantanal e a Mata Atlântica. Estou confiante de que com o passar do tempo veremos os frutos desses esforços.

Uma coisa que eu NÃO gostaria que tivéssemos em comum é o que aconteceu em nossos países dias seis e oito de janeiro. No entanto, saímos desses desafios mais fortes e unidos. Grande parte de meus amigos e amigas do Brasil expressaram sincero apreço pela resposta imediata da comunidade internacional – incluindo boa parte de vocês aqui – para condenar a violência e os ataques aos prédios do governo.  A sociedade civil também saiu em defesa das instituições e dos valores brasileiros.  Os Estados Unidos sempre estarão ao lado do Brasil para apoiar a democracia, o Estado de Direito e a vontade do povo.

Para encerrar, gostaria de mencionar uma das primeiras palavras que aprendi em português, que não tem tradução literal para o inglês.

Essa palavra é “saudade”. A melhor tradução em inglês é “nostalgia” ou ” longing for home “, mas significa muito mais que isso. Após poucos meses aqui, vocês já fizeram com que eu me sentisse em casa no Brasil. E agora, nos momentos em que estou fora do Brasil, eu sei – ou melhor, eu sinto – o verdadeiro significado da palavra “saudade”.

Muito obrigada e divirtam-se!