Entrevista Coletiva no Centro de Imprensa Estrangeira com o Primeiro Subsecretário para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco Palmieri
Tópico: Prioridades dos EUA no Continente Americano
Sexta-feira, 23 de setembro de 2016, 10h
(Horário de verão da Costa Leste dos EUA)
Centro de Imprensa Estrangeira de Nova York,
Praça das Nações Unidas 799, 10o andar
MODERADOR: Bom dia. Sejam todos bem-vindos. Esta manhã, o Centro de Imprensa Estrangeira de Nova York tem o prazer de receber novamente o primeiro subsecretário adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco “Paco” Palmieri. Hoje ele vai discutir o engajamento do governo americano e a implementação de políticas na região do Continente Americano.
Por favor, aproveitem este momento, se ainda não o fizeram, para silenciar seus telefones celulares. Lembrem-se de que esta entrevista coletiva é on the record. Nosso convidado fará a abertura e em seguida passaremos às perguntas de vocês. Com isso, passo a palavra ao senhor.
FRANCISCO PALMIERI: Obrigado. Bom dia. Gostaria de estender meus agradecimentos ao Centro de Imprensa Estrangeira por sediar a coletiva de hoje sobre as prioridades da política dos EUA no Continente Americano. Queremos um continente que seja democrático, com uma classe média forte e segura, e o engajamento dos EUA com seus parceiros regionais em Nova York esta semana busca promover esses objetivos. Gostaria de destacar algumas reuniões bilaterais e multilaterais que realizamos.
No dia 18 de setembro, o secretário Kerry e o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Borge Brende, presidiram uma reunião de nível ministerial com o objetivo de obter compromissos de apoio à Iniciativa Global de Desminagem na Colômbia. Remover as minas terrestres e os artefatos não detonados que mataram ou feriram mais de 11 mil colombianos nos últimos 25 anos é fundamental para garantir a paz duradoura que a Colômbia merece. Junto com outras 19 nações e a União Europeia, empenhamos US$ 105 milhões para pesquisa e remoção de minas terrestres, instrução sobre o risco das minas e assistência aos sobreviventes de incidentes com minas terrestres. Desse total, os Estados Unidos contribuíram com US$ 36 milhões.
PERGUNTA: Trinta e seis?
FRANCISCO PALMIERI: Trinta e seis milhões de dólares. Na quarta-feira, o secretário Kerry reuniu-se com o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski. Eles discutiram esforços colaborativos para apoiar a democracia na região; aumentar a integração econômica regional, inclusive por meio da próxima Reunião de Líderes Econômicos da Apec em Lima; enfrentar o crime organizado transnacional; proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas; e levar água potável às populações carentes. Nós prezamos a liderança do Peru nessas questões.
Além disso, o presidente Obama reuniu-se com o presidente Santos, e o vice-presidente Biden reuniu-se com o presidente Temer, do Brasil.
Gostaria de falar um pouco sobre nossas prioridades regionais. Os Estados Unidos estão profundamente engajados no Continente Americano, tal como demonstram o restabelecimento de relações diplomáticas com Cuba; o apoio ao processo de paz da Colômbia; iniciativas como o nosso pacote de assistência para a América Central; os números do nosso comércio e dos nossos investimentos, que crescem por causa dos laços comerciais extremamente fortes; as inúmeras viagens e visitas de alto nível que fizemos à região e muito mais.
Para competir na economia mundial de hoje, temos de transformar as Américas em uma plataforma integrada e compartilhada para o sucesso global. Devo assinalar que temos mais acordos de comércio no Continente Americano do que em qualquer outra região do mundo. Fortaleceremos essas relações comerciais regionais se a Parceria Transpacífica for promulgada, já que Canadá, Chile, México, Peru e Estados Unidos estão entre as 12 nações da TPP, que, somadas, representam 40% da economia mundial.
Nós nos comprometemos a participar de diálogos regionais e bilaterais para fazer avançar as prioridades de inclusão social e econômica. A iniciativa “100 Mil Unidos pelas Américas” do presidente Obama, concebida para criar oportunidades de estudo no exterior para todos os estudantes, inclusive aqueles historicamente marginalizados, é emblemática do nosso foco regional em uma agenda inclusiva, baseada em oportunidades.
Farei um breve resumo do engajamento dos EUA no continente antes de passar às perguntas.
Aqui na América do Norte, o México mostrou como um país pode crescer quando suas empresas conseguem se integrar às economias regional e global. E, como comprova a visita oficial do primeiro-ministro Trudeau no começo deste ano, as relações entre Estados Unidos e Canadá estão cada vez mais estreitas. A Cúpula dos Líderes da América do Norte realizada em Ottawa, em junho, ressaltou o valor da cooperação norte-americana em questões que afetam diretamente o nosso povo.
Na América Central, a implementação da estratégia de engajamento dos EUA está entre nossas prioridades mais urgentes, já que trabalhamos para resolver as condições subjacentes que motivam a migração. Ainda hoje, como parte de uma reunião com o setor privado do Triângulo Norte sediada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o vice-presidente Biden e a secretária adjunta em exercício, Mari Carmen Aponte, vão se encontrar com os presidentes de El Salvador, Honduras e Guatemala para discutir o andamento dessa questão em Washington. Trabalhamos com muitos países do continente para tratar de questões relativas à migração e aos refugiados e prezamos aqueles que demonstram liderança em questões ambientais e de direitos humanos.
A segurança energética continua sendo prioridade na América Central e no Caribe. A Cúpula sobre Energia EUA-Caribe-América Central realizada em maio e presidida pelo vice-presidente destacou a enorme importância da redução dos preços da energia e do aumento da competitividade econômica. Sabemos também o quanto o papel da sociedade civil é importante nesse sentido para nos ajudar a aprimorar as instituições e implementar as estratégias de desenvolvimento da região. Continuamos a promover um papel maior para a sociedade civil em diálogos regionais e cúpulas de alto nível e notamos como os países do Triângulo Norte da América Central integraram a sociedade civil ao processo de planejamento da Aliança para o Progresso.
No Haiti, embora os Estados Unidos tenham suspendido sua ajuda financeira eleitoral, o governo americano continua a apoiar as eleições como a única maneira de o Haiti retornar à ordem constitucional e resolver os sérios desafios que está enfrentando. Os Estados Unidos há muito tempo apoiam a democracia, as instituições democráticas e o respeito pelos direitos humanos no Haiti. Adotamos várias medidas para demonstrar nosso apoio inabalável e contínuo ao processo eleitoral, tal como nossa contribuição para uma missão de observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos nas eleições de 9 de outubro.
Desde o restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba em 20 de julho de 2015, temos nos reunido com nossos pares do governo cubano, alguns deles pela primeira vez, e nos engajamos em várias questões econômicas, culturais e sociais. Criamos cooperação bilateral em áreas que, em nossa opinião, vão melhorar a vida dos cidadãos de ambos os países. Continuamos convencidos de que nossa mudança de uma política de isolamento para uma de engajamento está funcionando e é o melhor caminho para apoiar as aspirações do povo cubano e o surgimento de uma Cuba pacífica, próspera e democrática.
Indo um pouco mais para o sul, a Colômbia está passando por uma mudança histórica. Os Estados Unidos aplaudem a assinatura do acordo final, que deve servir de base para a paz justa e duradoura que o povo colombiano merece. O secretário Kerry vai liderar a delegação dos EUA na assinatura do acordo na próxima segunda-feira, 26 de setembro. Esperamos continuar nossa parceria com a Colômbia por meio da estratégia do presidente “Colômbia em Paz”.
Na Venezuela, estamos preocupados com a deterioração das condições socioeconômicas e o fracasso do governo em atender às necessidades humanitárias básicas do povo venezuelano. A solução só pode surgir do diálogo entre os venezuelanos de todo o espectro político, com base no respeito aos direitos humanos e às instituições democráticas e em processos eleitorais justos e abertos.
Os Estados Unidos estão preocupados com o anúncio feito pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela na quarta-feira de que o processo do referendo revogatório pode não ser concluído até 2017. Essa decisão priva os cidadãos venezuelanos da oportunidade de moldar o curso de seu país. Conclamamos o Poder Executivo venezuelano a empenhar-se em um diálogo sério com a oposição e os venezuelanos de todos os matizes do espectro político. Agora é hora de ouvir todas as vozes venezuelanas e trabalhar juntos para encontrar soluções para os desafios e problemas que a Venezuela enfrenta.
No Cone Sul, trabalhamos em estreita colaboração com o Brasil nos bem-sucedidos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e continuamos a colaborar nos esforços para combater a zika. Também renovamos nossa parceria com a Argentina, com a qual temos muitos interesses em comum, e nos comprometemos a aprofundar essa parceria econômica, comercial e política.
Devo dizer ainda que esta manhã a presidente Bachelet do Chile está em Washington, DC, e receberá uma porção de registros relacionados com o assassinato de Letelier. Isso encerra um esforço de vários anos de diversas as agências para identificar e tornar públicos esses documentos em resposta a uma solicitação do governo do Chile.
Como vocês veem, estamos profundamente engajados na região e nossas reuniões com os parceiros regionais esta semana só avançaram nossos objetivos comuns. Terei satisfação em responder às suas perguntas agora. Obrigado.
PERGUNTA: Posso lhe perguntar… não sei se o senhor quer falar em inglês ou em espanhol.
FRANCISCO PALMIERI: Vamos falar em inglês nesta parte. Depois eu posso falar em espanhol.
PERGUNTA: Ok.
MODERADOR: E você pode se identificar e ao seu…
PERGUNTA: Sim. Claro. Sou Lucia Leal da EFE. É uma agência de notícias espanhola. Posso perguntar sobre o que o senhor acabou de dizer a respeito dos documentos que a presidente Bachelet vai receber? O governo chileno queria receber um relatório da CIA, que supostamente continha evidências de que Pinochet ordenou pessoalmente o assassinato de Letelier. Esse relatório está incluído nesses documentos?
FRANCISCO PALMIERI: Eu não vi todo o pacote de documentos. Podemos obter uma resposta para você. Mas, quanto a quaisquer solicitações específicas de documentos daquela agência, prefiro que a pergunta seja dirigida à própria agência.
PERGUNTA: Ok. E…
FRANCISCO PALMIERI: Devo acrescentar que a secretária adjunta Mari Carmen Aponte reuniu-se em separado com o secretário de Estado de Cooperação Internacional da Espanha, Jesús de Gracia.
PERGUNTA: Mm-hmm.
FRANCISCO PALMIERI: Ou Jesús Gracia. Outras perguntas?
PERGUNTA: Falou-se muito sobre refugiados e imigração esta semana. E na segunda-feira, vários grupos se reuniram no Centro de Estudos de Migração. E uma das críticas aos EUA foi o tratamento – após a detenção de imigrantes centro-americanos – que recebem das autoridades americanas e por terem sido colocados… uma das críticas é que eles foram colocados em uma sala muito fria. Essa crítica tem sido feita nos últimos dois anos ou coisa assim. Em espanhol se diz la hielera. E isso é algo que eles estão pressionando para que seja mudado. Qual é a resposta dos EUA a isso? E por que… qual é o propósito de colocar essas pessoas em uma sala com temperaturas tão baixas? O que é isso…
FRANCISCO PALMIERI: Em primeiro lugar, eu teria de encaminhar as perguntas específicas sobre as condições de detenção ao Departamento de Segurança Interna e ao Departamento de Saúde e Serviço Social. De modo geral, sei que tratamos todos os detentos extremamente bem, levamos em consideração suas necessidades específicas e resolvemos todas as situações que possam sofrer.
Outra coisa, no entanto, acho que o que realmente importa é o investimento de US$ 750 milhões que o presidente Obama buscou para a América Central, para podermos ajudar a prestar assistência às comunidades nos locais de onde essas pessoas estão saindo. Estamos tentando melhorar a situação da segurança na Guatemala, em Honduras e em El Salvador. Estamos trabalhando em programas integrados de serviço comunitário e policiamento comunitário para reduzir a violência, da qual muitas dessas pessoas estão fugindo. Mas, mais do que isso, estamos trabalhando para levar a essas comunidades mais prosperidade econômica, crescimento econômico e criação de empregos, de modo que as pessoas não tenham de sair da América Central e cruzar o México para chegar a uma fronteira onde, ao longo do caminho, são exploradas por redes de contrabando de estrangeiros.
PERGUNTA: Aldo Gamboa, Agência France-Presse. (Em espanhol) Ah, desculpe. Eu estava falando em espanhol.
FRANCISCO PALMIERI: Tudo bem. (Em espanhol)
PERGUNTA: Quero saber se já há algum plano de reuniões bilaterais para…
FRANCISCO PALMIERI: Como mencionei em meu pronunciamento, o secretário Kerry vai chefiar a delegação dos EUA para a cerimônia de assinatura na Colômbia na segunda-feira. Os Estados Unidos veem com bons olhos o acordo de paz. Esperamos que ele resulte na paz justa e duradoura que o povo colombiano deseja. Como disse o presidente Obama, o tempo de paz chegou à Colômbia. Continuaremos trabalhando com eles. Mas sobre questões específicas da agenda do secretário, não temos como comentar aqui agora.
PERGUNTA: Alejandro Rincon, da NTN 24. Continuando sobre a situação da Venezuela. Queria saber se existe alguma outra fonte de preocupação para o governo dos EUA além do fato de que parece que o processo do referendo chegou a um ponto de paralização. E o senhor já mencionou que os EUA temem que esse processo chegue a ser totalmente bloqueado, mas há outras fontes de preocupação para os EUA em termos do que está ocorrendo atualmente na Venezuela? A situação talvez possa se deteriorar ao ponto de deflagrar um conflito ou chegar a um ponto em que se deteriore totalmente e as coisas fiquem ainda piores do que estão.
FRANCISCO PALMIERI: Penso que está bem documentada a grave escassez de alimentos e remédios em todo o país. As pessoas estão sofrendo na Venezuela, e cabe aos governos democraticamente eleitos suprir as necessidades do seu povo. Uma das maneiras de fazer isso é com um diálogo verdadeiro que envolva todos os elementos do país, e os Estados Unidos têm apoiado esse diálogo. Mas essa decisão tomada na quarta-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela de avançar para a próxima etapa do processo do referendo revogatório, mas que limita o número de locais de votação para coletar as assinaturas necessárias, que distribuiu esses locais de votação de modo muito tendencioso em todo o país e que está impondo um número mínimo de assinaturas por estado, não parece ser o tipo de processo inclusivo que permitirá ao povo venezuelano expressar sua vontade democrática de maneira justa e imparcial. Portanto, sim, esse anúncio nos preocupa.
Além disso, a oposição política, Mesa da Unidade Democrática (MUD), deixou claro que continuará com os protestos pacíficos em larga escala para demonstrar as necessidades e os desejos do povo venezuelano por ação significativa que resolva esses problemas. Estamos muito animados com a decisão da MUD de continuar com os protestos pacíficos, e é assim que as sociedades democráticas devem resolver esses tipos de problemas que estamos todos vendo no país.
O melhor, contudo, seria o governo avançar rapidamente para a realização de um referendo revogatório ainda este ano de modo oportuno e justo.
PERGUNTA: Posso dar continuidade a esse ponto?
FRANCISCO PALMIERI: Sim. Prossiga.
PERGUNTA: Diego… não, eu darei continuidade.
PERGUNTA: Ok.
PERGUNTA: Diego Senior, W Radio, Caracol, Colômbia. Que ações vocês podem empreender além de expressar preocupação a esse respeito a fim de ajudar os venezuelanos a alcançar seu objetivo, que é simplesmente a oportunidade de realizar uma eleição este ano?
FRANCISCO PALMIERI: Você tinha outra pergunta? Se tiver, eu respondo junto.
PERGUNTA: Sim, não, só queria saber, porque vi a declaração de Kirby ontem, mas havia um representante do partido do sr. Maduro, que disse achar impossível que o referendo ocorra até mesmo em 2017. Quero saber, então, se há alguma reação a isso.
FRANCISCO PALMIERI: Sim. Soube das manchetes em Caracas que atribuem essa declaração a um membro do partido político do presidente. Veja, a posição dos Estados Unidos é muito clara: deve haver um referendo revogatório oportuno e justo a ser realizado ainda este ano. Essa é a melhor maneira de os venezuelanos decidirem e lidarem com as condições socioeconômicas do país.
O que os Estados Unidos podem fazer? Respeitamos a soberania venezuelana e reconhecemos que esse é um processo que o povo venezuelano tem de realizar. Mas como dissemos hoje e como dissemos anteriormente, instituições democráticas e processos democráticos são a melhor forma de resolver esses problemas e devem ser conduzidos de maneira justa e apartidária para dar a todos os lados a possibilidade de que suas opiniões sejam ouvidas e sua vontade, expressada. Continuaremos a insistir para que os processos democráticos e constitucionais sejam respeitados e adotados na Venezuela. Mas como país estrangeiro, temos de respeitar a soberania da Venezuela para resolver esses assuntos.
PERGUNTA: Tom Shannon continua participando das conversações entre os dois países? Talvez ele também seja alguém que possa dar bons conselhos ao presidente lá.
FRANCISCO PALMIERI: Acho que muita gente reconhece que o subsecretário Shannon geralmente pode dar bons e sábios conselhos aos mais diferentes líderes mundiais. Ele tem um relacionamento especial por já ter trabalhado na Venezuela anteriormente. E continua muito envolvido na questão da Venezuela, assim como a secretária adjunta Mari Carmen Aponte. Avalio que estamos abertos e dispostos a dar continuidade às conversações com todos os níveis do governo venezuelano, a fim de convencê-los e incentivá-los a colocar em operação e usar as instituições democráticas que têm à disposição para chegar a uma reconciliação nacional que resolva os reais problemas econômicos do país. Portanto, sim, continuaremos a oferecer a nossa ajuda e assistência, onde e quando pudermos, ao governo e ao povo da Venezuela.
PERGUNTA: Motokura, Kyodo News, agência de notícias japonesa. Como o senhor vê o nível de tensão social na Venezuela em comparação com 2002, 2003, logo antes da tentativa de golpe contra Chávez?
FRANCISCO PALMIERI: Acho que o ambiente é muito diferente de 2002, 2003. É até muito diferente de 2014, a última vez que vimos protestos de rua. A oposição política obteve uma vitória esmagadora em novembro – dezembro último, nas eleições democráticas. O governo continua a impedir o trabalho da assembleia nacional por meio do controle que exerce sobre outras instituições democráticas no país, em vez de ver a assembleia nacional como parceira no esforço de buscar soluções que possam beneficiar todos os venezuelanos. E o clamor da oposição por um referendo revogatório é uma indicação de que os venezuelanos em todo o espectro político – em todas as comunidades, em todos os cantos do país – querem uma chance de ter sua opinião ouvida sobre o rumo que o país está tomando. E eles estão preocupados com esse rumo. E nós continuaremos a apoiar em nossas declarações e em nosso trabalho – perdão – a pressão por um referendo revogatório oportuno e justo neste ano.
PERGUNTA: Posso perguntar sobre a Nicarágua?
FRANCISCO PALMIERI: Por favor.
PERGUNTA: Sim. (Risos.)
PERGUNTA: Ok. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que imporia sanções à Nicarágua. Isso, eu acho – desculpe, eu tinha elaborado a pergunta em espanhol – isso bloquearia os empréstimos a esse país até que haja eleições livres e justas. O governo vai apoiar isso?
FRANCISCO PALMIERI: O governo americano está profundamente preocupado com a prática democrática na Nicarágua. O atual governo nicaraguense também assumiu o controle de todas as instituições democráticas, e as decisões que tomou este ano de negar a presença de observadores internacionais nas eleições de novembro no país, de destituir os líderes dos partidos políticos de oposição de seus cargos e de continuar a limitar a liberdade de imprensa no país são antidemocráticas. Isso põe em dúvida a legitimidade e a credibilidade das eleições que ocorrerão em novembro.
PERGUNTA: E o governo apoiaria esse projeto de lei, as sanções?
FRANCISCO PALMIERI: Teremos de analisar mais a fundo os elementos específicos da legislação, que neste momento só foi aprovada na Câmara dos Deputados, antes de assumirmos uma posição formal e pública sobre isso.
PERGUNTA: Os EUA estão dispostos a reconsiderar ou estão… pelo que sei vários presidentes centro-americanos, inclusive o presidente da Costa Rica, acho que em novembro, enviaram uma carta a Obama pedindo a revisão da política relativa aos cubanos – a política dos pies secos/pies mojados. Sei que este é um ano de eleições, mas os EUA estão dispostos a rever ou reconsiderar a maneira como estão tratando os imigrantes cubanos em relação a outros imigrantes que não têm os mesmos benefícios?
FRANCISCO PALMIERI: A política americana dos pés secos/pés molhados relativa aos imigrantes cubanos que chegam aos Estados Unidos continua sendo a nossa política e continuará em vigor. Estamos, por meio dos nossos programas na América Central, estudando maneiras de ajudar a eliminar as causas e as condições subjacentes que estão levando pessoas de outras nacionalidades a tentar imigrar para os Estados Unidos, melhorando as condições locais na América Central tanto do ponto de vista da economia quanto da segurança. Penso que essa seja uma resposta que cria a possibilidade de uma solução a mais longo prazo para a migração irregular da América Central, e continuaremos a trabalhar nisso.
Acho que a normalização das relações com Cuba permitirá mais intercâmbios entre os povos e vai melhorar as relações dos EUA em Cuba e a capacidade dos cubanos de buscar atividades empreendedoras no país, desenvolver seu pequeno setor privado e também melhorar suas próprias perspectivas econômicas na ilha.
PERGUNTA: O presidente Obama conseguirá fechar Guantánamo?
FRANCISCO PALMIERI: O presidente está trabalhando com muito afinco para alcançar esse objetivo, mas eu teria de encaminhar essa pergunta ao enviado especial em Guantánamo. Sei que eles fizeram avanços significativos nos últimos meses, e esse continua a ser o objetivo.
PERGUNTA: Se eu puder continuar a perguntar sobre Cuba…
FRANCISCO PALMIERI: Sim.
PERGUNTA: Quero apenas, se possível… se o senhor puder explicar melhor por que os EUA ainda continuam apoiando essa política. Sei que é uma política que está há muito tempo em vigor e tem vínculos com o Congresso, mas todos esses países estão de certa forma… Acho que essa política gera tensões com alguns países do continente quando a intenção dos EUA é que sua política com relação a Cuba melhore as relações com outros países das Américas.
FRANCISCO PALMIERI: Não há nenhuma mudança sendo considerada para a política dos pés secos, pés molhados. Ela continua sendo a nossa política no que concerne aos migrantes cubanos. Com relação ao que os outros países sentem sobre isso e o impacto que essa política exerce sobre outras migrações irregulares ou ilegais para os Estados Unidos, penso que lidamos com cada uma dessas situações de maneira específica e diferente. Mencionei o que estamos fazendo na América Central para tentar melhorar as condições na região. Ontem foi anunciado, com respeito aos migrantes haitianos, que houve um ligeiro aumento da migração haitiana, e estamos tratando disso também. O Departamento de Segurança Interna terá mais informações sobre essa questão.
Mas a realidade é que trabalhamos com todos os nossos parceiros na região para resolver esse problema, e, no fim das contas, o problema da migração ilegal e irregular exige uma abordagem regional e que todos os países façam respeitar suas próprias leis de imigração e suas próprias fronteiras.
PERGUNTA: Continuando na questão da migração, em sua opinião, qual é o fator fundamental para que essa estratégia realmente funcione? Porque, no final, é importante que haja compromisso dos dois lados, o que é bastante evidente, mas, em sua opinião, qual é a parte fundamental que os parceiros dos EUA devem implementar para que essa política funcione de fato? Eles estão realmente comprometidos ou há outras ações que são necessárias da parte deles para que haja um impacto diferente nesse problema?
FRANCISCO PALMIERI: Franklin Roosevelt disse certa vez que o melhor programa social jamais inventado foi o emprego, e para mim isso ainda é verdade. As pessoas precisam trabalhar, elas precisam de emprego, e os líderes do Triângulo Norte centro-americano criaram a Aliança para o Progresso para investir em seus recursos humanos e ativar seus setores produtivos, seus setores privados. Hoje, em Washington, o vice-presidente Biden e os presidentes de El Salvador, Honduras e Guatemala estão se reunindo com o presidente Moreno e seus respectivos setores privados para tratar exatamente disto: como os setores privados podem ativar seus próprios investimentos na região e criar empregos que mantenham as pessoas em sua comunidade de origem.
Acho que também é importante que as pessoas entendam que enquanto nós colocamos US$ 750 milhões, os três países da região estão colocando quase US$ 2 bilhões do próprio dinheiro exatamente para esses tipos de investimentos, para intensificar o crescimento econômico e as oportunidades econômicas de cada país. Esse é um componente essencial para resolver de fato esse problema de longa data. É muito claro. Um componente fundamental da nossa política é uma América Central integrada – não apenas os três países, mas toda a região. Se América Central se tornar um mercado unificado de 47 milhões de consumidores, em vez de mercados individuais, será um destino muito mais atraente para o investimento estrangeiro.
Portanto, em última análise, como resolver o problema? Criando oportunidades econômicas e criando empregos para que as pessoas possam trabalhar e viver na sua comunidade de origem que tanto amam. Finalmente, também podemos causar impacto trabalhando em programas de segurança para acabar com a violência descontrolada. Honduras fez progressos importantes no sentido de reduzir a taxa de homicídios no país, que passou de 90 para 60, 50 este ano. Mas assim como isso começou a melhorar nesse país, a taxa de homicídios em El Salvador no ano passado foi a mais alta do mundo, chegando a mais de 100 por 100 mil habitantes. Trata-se de violência real, e essas condições também têm de ser resolvidas.
Mas penso que criar empregos é a principal maneira de chegar realmente a uma solução de longo prazo, e isso vai exigir que os Estados Unidos continuem seus investimentos por muitos anos e manter e sustentar a nossa presença.
Obrigado, pessoal.
PERGUNTA: Obrigado.
MODERADOR: Se não houver mais perguntas, terminamos aqui a coletiva de hoje. A transcrição estará disponível em breve, e quero agradecer a todos pela presença e, em especial, ao nosso primeiro subsecretário adjunto, Paco Palmieri, por estar conosco hoje. Muito obrigado.
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