Entrevista concedida a Aruana Brianezi, do jornal A Crítica, e publicada no dia 22/06/2014.
Um dia antes de sua primeira visita a Manaus, a embaixadora Liliana Ayalde deu entrevista ao jornal A Crítica e falou sobre a Seleção dos EUA na Copa do Mundo.
Criada com uma visão global do mundo, Liliana Ayalde desde cedo soube que seguiria uma carreira que a levasse a ter contato habitual com outros povos e culturas. Em agosto de 2013, com a experiência de 30 anos em serviços diplomáticos, assumiu a embaixada dos Estados Unidos no Brasil.
O momento não poderia ser mais desafiador. No mês anterior, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, cancelara visita aos EUA em meio a uma crise nas relações bilaterais entre os dois países. Com firmeza, mas sempre demonstrando uma natural serenidade, Liliana tem defendido desde então que os dois lados perdem com a briga.
Um dia antes de sua primeira visita a Manaus, a embaixadora deu entrevista a A Crítica por email. Na sexta-feira, já na cidade e a postos para torcer pelos EUA – que jogam hoje contra Portugal –, ela posou para fotos com a cidade ao fundo e mostrou empolgação com a beleza da Amazônia.
A sra. assumiu a embaixada no Brasil em meio a uma crise nas relações bilaterais com os EUA. Desde então, tem dito que é preciso enfatizar pontos positivos e resolver as diferenças. Já houve avanço nesse sentido?
O vice-presidente dos EUA, Joseph Biden, visitou o Brasil no dia 17 de junho e teve encontros positivos com a presidente Rousseff e o vice-presidente Temer. Foram conversas construtivas e amigáveis. O vice-presidente Biden disse em comunicado à imprensa após esses encontros, “quando se trata de Estados Unidos e Brasil e nossas relações, o céu é literalmente o limite do que podemos alcançar juntos”. Essa visita demonstra o estado positivo das relações entre nossos dois países. Somos parceiros naturais, com valores democráticos comuns, histórias similares, sociedades diversas e uma gama de interesses compartilhados. Como os dois maiores países do Continente Americano, em termos de população e tamanho da economia, os Estados Unidos e o Brasil são parceiros estratégicos importantes que, quando trabalham juntos, têm um impacto benéfico na região e no mundo.
A Copa do Mundo no Brasil foi precedida de uma série de protestos e ainda há um componente político forte cercando o Mundial. É possível separar a Copa da questão política?
Para mim é uma honra estar em Manaus para torcer pela seleção dos EUA. Os esportes transcendem diferenças linguísticas, socioculturais e econômicas; incentivam o respeito pela diversidade; e reúnem as pessoas. Por acreditar no valor duradouro dos esportes, a Embaixada dos EUA no Brasil tem uma estratégia de esportes intitulada “Esportes para Todos” que destaca liderança, trabalho em equipe e comunicação como habilidades que ajudam os jovens a ter sucesso em todas as áreas da vida.
Oitenta mil norte-americanos compraram ingressos para jogos no Brasil. E sempre se disse que o futebol não está entre os esportes favoritos de seu país. Esse perfil mudou?
Os americanos estão mais interessados do que nunca no futebol. A ESPN e a Univision registraram quase 20 milhões de espectadores televisivos e on-line para o jogo EUA x Gana (estreia da seleção norte-americana na Copa), um recorde para o futebol masculino. Vinte e cinco milhões de pessoas nos Estados Unidos jogam futebol; 80% delas são jovens e serão jogadores e torcedores nos próximos anos. Nossos times da Liga Profissional lotam estádios de costa a costa, e nossa seleção feminina está em primeiro na classificação mundial. Nossa seleção masculina mostrou na segunda-feira ao jogar contra Gana que nossa garra, nossa determinação e nossa vontade são nossas características que nos definem no campo e como país. Estou orgulhosa da seleção.
Que tipo de providências o governo dos EUA tomou em relação a essa vinda em massa dos turistas norte-americanos ao Brasil? Houve reforço na questão de segurança, por exemplo?
Os americanos compraram quase 200 mil ingressos para a Copa do Mundo, mais do que qualquer outra nacionalidade depois dos brasileiros. Durante o torneio, portanto, nosso principal objetivo é prestar assistência aos cidadãos americanos que estão no Brasil nesse período. Temos equipes consulares onde os jogos estão sendo disputados para dar respaldo aos cidadãos americanos que possam precisar de alguma assistência emergencial. A cooperação com as autoridades brasileiras tem sido excelente, inclusive aqui em Manaus e somos gratos por isso.
O turista brasileiro bate recordes sucessivos de visitas aos EUA. Como explicar esse interesse? O que os dois países têm em comum?
Os Estados Unidos e o Brasil compartilham valores democráticos, compromisso com a diversidade e determinação para aumentar as oportunidades para os nossos povos. Estou muito satisfeita de os brasileiros terem escolhido os Estados Unidos como destino de viagem. Como tantos brasileiros, adoro as muitas coisas fantásticas que Miami, Orlando e Nova York têm a oferecer. Cada vez mais, no entanto, os brasileiros estão explorando outras áreas nos EUA, como Las Vegas, Califórnia e até os resorts de esqui no Colorado. Como o Brasil, os Estados Unidos são um país enorme e vasto com muitos lugares interessantes para serem vistos e explorados.
Porto Alegre ganhou o sétimo centro de atendimento para solicitação de visto no Brasil. Há previsão de instalação de algum centro na região Norte do País?
Ficamos muito satisfeitos em inaugurar um novo Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV) em Porto Alegre em março e estamos nos preparando para a abertura do nosso novo consulado na cidade gaúcha no ano que vem. Também estamos analisando a possibilidade de abrir outros CASVs em outras partes do Brasil, mas isso exigirá estudos adicionais.
Como está a questão do fim do visto obrigatório? É possível contar com ela num cenário a médio prazo?
No final de 2012, nossos governos criaram um Grupo de Trabalho de Vistos para discutir as exigências para o Brasil entrar no Programa de Isenção de Vistos. Trata-se de um processo complexo orientado pela legislação americana que formalizou o programa. São várias exigências, inclusive um índice de recusa de vistos abaixo de 3% e a negociação de alguns acordos bilaterais de troca de informações. Os dois governos estão discutindo para avançar, mas ainda há muito trabalho pela frente.
A sra. já conhecia Manaus? Qual sua expectativa para a visita?
Estou muito satisfeita por estar em Manaus pela primeira vez. Estou com a minha família e estamos muito empolgados para ver a beleza da Amazônia. Vamos visitar o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA). Ainda nesta semana visitarei empresas americanas na Zona Franca de Manaus. E, é claro, vou torcer para a seleção americana hoje. Este é um ótimo lugar para visitar, e sei que muitas pessoas aqui em Manaus já participaram de diversos programas promovidos pela Embaixada dos EUA aqui – espero que elas venham torcer para a seleção americana!
A internacionalização da Amazônia é um fantasma que assombra brasileiros – e em geral os EUA são “vilões” nesses cenários. Como desfazer essa imagem? Quais são os interesses do seu país na Amazônia?
O Brasil é um país abençoado com grandes recursos naturais na Amazônia brasileira. Estamos satisfeitos em apoiar os esforços do Brasil para proteger esta importante região desenvolvendo novas parcerias com o Ministério do Meio Ambiente por meio da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID) para mitigar o impacto global das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade.
Como a sra. iniciou a carreira diplomática?
Meu pai é médico e viajou o mundo com a Organização Pan-Americana da Saúde e com a minha família; moramos em vários países do continente. Desde muito cedo aprendi a gostar de vivenciar novas culturas e fui criada para ter uma visão global. Meus pais me ensinaram a importância de apreciar a riqueza das diferentes culturas tendo um impacto positivo em outros países e, a partir dessas experiências, os assuntos internacionais tornaram-se uma carreira natural para mim.
Quando a sra. iniciou o aprendizado de português? Qual a importância de se dominar uma segunda língua, nos dias de hoje?
O inglês é a minha primeira língua. Meus pais falam espanhol, portanto, desde muito cedo aprendi a ser bilíngue. Aprendi português quando morei no Rio, na adolescência. Aprender uma segunda e terceira língua tem sido muito importante para a minha carreira e me permite perceber as nuances dos países e das culturas da América Latina.