Boa tarde. É realmente uma honra ter a oportunidade de me dirigir a um grupo tão ilustre nesta sexta edição do Fórum Anual de Private Equity no Brasil.
Sou particularmente grata a Ahmad Sahar, parceiro da Latin Markets, pelo convite. E realmente o parabenizo por ter reunido um grupo tão espetacular de palestrantes e participantes.
É muito positivo ver tantos investidores americanos e de outros países aqui hoje para estudar oportunidades atuais e futuras de investimento no Brasil. Vou começar dizendo que vocês estão no lugar certo. O Brasil é e continuará a ser um dos mercados essenciais do mundo para empresas verdadeiramente globais. A pergunta da maioria das empresas americanas com as quais me encontro quando visitam o Brasil não é “será que?” mas “como?”. Elas veem com grande interesse este país continental que fervilha com uma população diversa de 200 milhões de pessoas. E, embora sejamos um país continental, às vezes deixamos de perceber a dimensão do Brasil. A população do estado de São Paulo é quase igual a da Argentina. O PIB da África do Sul, parceira do Brasil nos BRICS, é menor do que o do estado de São Paulo. A cidade nordestina do Recife tem um PIB do tamanho do da Nicarágua. Poderia continuar com esse tipo de estatística – mas, em vez disso, vamos olhar mais de perto os 200 milhões de habitantes do Brasil. Milhões ingressaram na classe média na última década, e mais da metade dos brasileiros está hoje no mercado consumidor de classe média. Milhões de brasileiros compraram o primeiro carro, o primeiro computador, a primeira máquina de lavar e fizeram a primeira viagem à Disney World. Nos últimos anos isso tem aumentado e, apesar da atual desaceleração econômica, prevemos que a médio e longo prazos suas ambições farão com que continuem a impulsionar a economia brasileira.
O que percebi nestes anos desde que retornei ao Brasil, depois de ter passado cerca de três anos no Rio de Janeiro quando era criança, é que os EUA e o Brasil têm muitas coisas em comum e que em geral são as pequenas diferenças que pegam de surpresa a maioria dos empresários aqui. Quando fazemos negócios em lugares como China e Índia, onde as coisas podem parecer ser diferentes, a menor semelhança assume uma importância desproporcional nas nossas percepções e respostas. No Brasil, ao contrário, onde a maioria das coisas nos parece muito familiar, em geral são as pequenas diferenças inesperadas, como aquela pitadinha de flor de sal na carne maravilhosamente preparada para o seu jantar, que assumem um papel desproporcional nas nossas percepções.
No final das contas, porém, o que temos no Brasil, como nos Estados Unidos, é uma economia muito grande e diversificada que se desenvolveu e cresceu voltada principalmente para atender a uma grande demanda interna por produtos e serviços. Somos os dois maiores produtores agrícolas do mundo, os maiores usuários do Facebook e do Twitter e os principais produtores de aeronaves, automóveis e diversos outros produtos. Ambos os países formulam políticas baseadas principalmente em considerações nacionais e têm fortes preferências por desenvolver suas próprias soluções únicas para os desafios em vez de importá-las de outros países. Só precisamos dar uma olhada neste imenso e complexo mercado para ver algumas das soluções únicas desenvolvidas pelo Brasil ao longo dos anos para expandir sua economia e fazer com que produtos e serviços ficassem cada vez mais acessíveis para atender à crescente demanda de consumo, seja dividindo em prestações até mesmo as menores compras, seja concedendo mais acesso a pequenos serviços bancários em lotéricas ou a abundância de serviços disponíveis para os clientes nos caixas eletrônicos.
Como a maioria de vocês deve saber, as empresas americanas têm desempenhado um papel importante no Brasil, com muitas operando aqui há um século ou mais. Embora nossa relação com o Brasil abranja uma vasta gama de áreas, comércio e investimentos sem dúvida representam um dos seus pilares mais importantes e têm enorme impacto positivo em todos os outros aspectos da nossa relação. Apesar de comércio e investimentos estarem em níveis recorde – nas duas direções, devo acrescentar – isso não significa que o bem conhecido “Custo Brasil” tenha desaparecido de repente. As empresas americanas e brasileiras aprenderam como ter sucesso, e os nossos governos continuam a estudar formas de facilitar negócios. Para nós, os níveis recorde de comércio e investimentos são apenas o começo. Ao alcançarmos maior integração econômica, os números realmente vão subir. Apesar da atual desaceleração econômica no Brasil, na minha opinião, o futuro é brilhante para as empresas que focam no médio e longo prazos, aproveitando-se de momentos como estes para ampliar e modernizar sua presença aqui e reforçar sua posição de mercado para o próximo período de crescimento que a sétima maior economia do mundo sem dúvida viverá nos próximos anos.
Agora que as eleições aqui no Brasil foram concluídas, os Estados Unidos aguardam com expectativa intensificar seus compromissos com o governo brasileiro e a sociedade como um todo em uma ampla gama de questões bilaterais e globais. Quando o presidente Obama ligou para parabenizar a presidente Dilma Rousseff, ele destacou a importância da nossa parceria com o Brasil e disse que os Estados Unidos querem avançar e aprofundar os compromissos entre os dois países. O vice-presidente Biden também ligou, e a presidente Dilma o convidou para a posse. O secretário Kerry conversou com o ministro das Relações Exteriores, Figueiredo, e enviou uma mensagem parecida – de que temos interesse comum em aumentar a relação bilateral a um nível ainda mais alto. Nesse sentido, o vice-presidente Biden confirmou que vai liderar nossa delegação para a posse da presidente Dilma Rousseff em 1o de janeiro. Junto com ele estará a principal formuladora de políticas do Departamento de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson.
Para os dois países, a prioridade para o futuro é a mesma: uma parceria fecunda voltada para o futuro em várias frentes. A presidente Dilma Rousseff reafirmou publicamente e em particular seu interesse na construção de relações mais fortes. E estamos agora discutindo o agendamento de uma possível visita da presidente Dilma a Washington em 2015. Vamos trabalhar com muito afinco, com contribuições do setor privado em fóruns como este e o Fórum de CEOs, para montar uma agenda dinâmica para essa visita. Nossos dois países compartilham interesses em questões bilaterais, regionais e globais, incluindo comércio e investimentos, inovação, infraestrutura, meio ambiente, energia e educação. Temos uma base muito sólida da qual podemos tirar proveito. Por exemplo, as empresas brasileiras representam estimados US$ 14 bilhões em investimentos estrangeiros diretos e empregam mais de 76 mil trabalhadores americanos. Esperamos que esses números continuem a aumentar no futuro à medida que as empresas brasileiras continuam a crescer. Em 2013, tive o prazer de liderar uma delegação brasileira na primeira Cúpula de Investimento Select USA em Washington, DC, que acabou sendo a maior delegação da América Latina e incluiu muitas empresas que desde então têm feito investimentos importantes nos Estados Unidos. A próxima Cúpula de Investimentos Select USA será realizada em Washington em abril de 2015, e estou ansiosa para liderar uma delegação ainda maior de investidores brasileiros nesse evento.
Vou comentar brevemente sobre rumores que vocês podem ter ouvido explicados de maneira diferente – relações congeladas ou algo nesse sentido. Alguns disseram que os nossos governos pararam de trabalhar juntos, que houve uma pausa, que houve um congelamento no último ano devido às divulgações sobre a NSA. De fato tivemos algumas conversas difíceis e duras. Mas a maioria das atividades que acabei de mencionar tiveram continuidade e até foram intensificadas nesse período. Na verdade, há apenas dois meses os nossos dois governos foram capazes de resolver com êxito uma grande questão de comércio agrícola que vinha de longa data.
Aqui no Brasil, as empresas americanas continuam a contribuir de modo significativo para a expansão da capacidade científica, tecnológica e inovadora do país – uma das principais prioridades da presidente Dilma Rousseff foi e continua sendo expandir a capacidade científica, tecnológica e inovadora do país. Em 2012, ela lançou o altamente bem-sucedido programa Ciência sem Fronteiras, conhecido nos Estados Unidos comoPrograma de Mobilidade Científica. Os números de alunos participantes somente no programa americano são impressionantes. Houve um aumento de 22% no número de brasileiros estudando em universidades americanas entre 2012 e 2013. E, até agora, mais de 26 mil brasileiros estudaram ou estão estudando em universidades americanas por meio desse programa. Muitas das mais renomadas empresas americanas decidiram oferecer aos estudantes brasileiros oportunidades inestimáveis de estágio que lhes permitiram ganhar prática em suas áreas de estudo e que tiveram papel importante ao capacitá-los economicamente, em especial mulheres e estudantes desfavorecidos, para que se tornem participantes mais ativos no futuro do Brasil como líder mundial de tecnologia e inovação.
As empresas americanas também fizeram investimentos muito significativos na capacitação científica e tecnológica aqui, criando mais de 70 centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil nos últimos anos. No mês passado, participei da inauguração do novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da GE no Rio de Janeiro, no valor de US$ 250 milhões. Durante a cerimônia, o CEO Jeffrey Immelt declarou que era o sexto centro desse tipo da GE no mundo e anunciou estar investindo mais US$ 250 milhões para o desenvolvimento do centro até 2020 – realizando pesquisas nos setores de energia, saúde e transportes, entre outros. Ele declarou que a GE está no Brasil há 95 anos, que o Brasil é agora o terceiro maior mercado global da empresa, depois de EUA e China, e que seu compromisso com o país é de longo prazo. E, também na semana passada, a Boeing Brasil anunciou a inauguração de uma unidade de pesquisa e desenvolvimento em Brasília, a segunda da empresa no país. Há muitos outros exemplos, todos ressaltando que o Brasil é uma boa aposta de longo prazo.
Há muitas oportunidades de investimento que empresas como as de vocês podem explorar aqui, seja em infraestrutura, logística, energia, tecnologia da informação, agronegócio, saúde, educação, entre outras. Temos assessores econômicos e comerciais em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e aqui em São Paulo, assim como assessores para auxiliar as empresas americanas a fazer negócios no Brasil. Identificamos 30 setores industriais que oferecem forte potencial de crescimento no Brasil, onde as empresas americanas são líderes globais e bem posicionadas para buscar parcerias e oportunidades. Incentivo vocês a entrar em contato com os membros das minhas equipes comercial e econômica aqui no Brasil se acharem que eles podem ajudá-los a se orientar neste mercado promissor, embora complexo.
Acreditamos que a parceria com o Brasil é uma boa aposta de longo prazo e estamos empenhados em trabalhar junto com nossos pares brasileiros para perseguir metas mutuamente benéficas nos próximos anos. Como as duas maiores economias do Continente Ocidental e a maior e a sétima economias do mundo, temos interesse comum em alavancar nossas forças para o benefício mútuo de nossos países e nossos povos. À medida que nossos governos continuam a trabalhar em estreita colaboração, vocês encontrarão diversas oportunidades excelentes para investir no futuro do Brasil, e nós vemos vocês como colaboradores essenciais no aprofundamento desse relacionamento.
Obrigada e boa sorte!