CASA BRANCA
Gabinete do Vice-Presidente
Para divulgação imediata
The Willard Hotel
Washington, DC
14h42 (horário de verão da Costa Leste dos EUA)
VICE-PRESIDENTE: Sinto desapontá-los. (Risos.)
Muitos de vocês aqui nesta sala tiveram a oportunidade de ser apresentados por seus colegas com belas palavras. E grande parte disso é clichê. Mas, devo dizer-lhes com sinceridade, o significado dessa apresentação está diretamente relacionado com o respeito que vocês têm pela pessoa que os está apresentando. E isso significa muito para mim.
A secretária/embaixadora Carla Hills e eu nos conhecemos há muito tempo. Eu fui líder no Senado, e ela foi líder em um governo republicano. E foi uma das mentes mais formidáveis das quais discordei a respeito de políticas específicas e política interna naquela época. (Risos.)
Portanto, quero agradecer – sei que ela é embaixadora. Mas acho que ser secretária também é algo muito importante – quero agradecer à ex-secretária e embaixadora Carla Hills pela adorável apresentação.
E, Enrique, senhor presidente, quero agradecer-lhe pelos 25 anos de notáveis serviços prestados ao CAF. Sua liderança ajudou a fazer do CAF, e digo isso com franqueza, uma das instituições mais respeitadas e efetivas de promoção do desenvolvimento da América Latina. E você vai fazer falta, mas imagino que não vai sentir falta de tudo isso. É muito trabalho. Mas obrigado por tudo o que fez.
E Luis não está aqui, o secretário-geral, porque teve uma morte na família. Ele também está fazendo um trabalho incrível. Envio a ele minhas condolências e espero que esteja bem.
E Michael Shifter, o presidente do Diálogo Interamericano – esse é um termo chique de política externa para dizer que você realmente consegue fazer as pessoas dialogarem umas com as outras. E isso importa. Quero, como já disse, agradecer à Carla mais uma vez pela apresentação.
Por 20 anos, esta conferência reuniu os maiores pensadores – e não estou tentando ser lisonjeiro, mas os maiores pensadores e formuladores de políticas dedicados a este continente.
Nesse período, graças em parte à liderança das pessoas aqui reunidas, testemunhamos uma mudança significativa na região. Hoje, as perspectivas de liberação do enorme potencial que existe em nosso continente são fundamentalmente diferentes do que eram há 20, 10 ou até mesmo 5 anos.
Pela primeira vez na história, na minha opinião, é possível imaginar um continente de classe média, democrático e seguro desde o norte do Canadá até a ponta do Chile.
Isso vai exigir muito trabalho árduo e o compromisso contínuo de todos os países do continente, inclusive dos Estados Unidos. Mas realmente acredito que seja possível. Como diria meu avô, com a graça de Deus e a boa vontade dos vizinhos, temos a chance de fazer uma coisa que cerca de 5 a 10 anos atrás seria apenas um sonho.
Pois temos tudo de que precisamos para liderar o mundo no futuro. Não há motivo para Continente Americano não ser o continente mais importante do mundo no século 21. Falo isso sinceramente. Nós temos os recursos. Temos engenhosidade, valores e dinamismo. Tudo isso existe neste continente. Está tudo aqui.
O presidente Obama e eu reconhecemos, desde o dia em que assumimos, que havia muita história, muita bagagem moldando nossas responsabilidades e relações no continente. Então, desde o começo deixamos claro que não íamos ficar presos aos erros do passado ou a ideologias ultrapassadas.
Nossas relações seriam baseadas em respeito mútuo. Não perguntaríamos mais o que os Estados Unidos podem fazer pela região.
Mas sim o que nós podemos fazer com a região.
Eu me encontrei com praticamente todos os presidentes do continente. Foi isso que deixei claro desde o início. Mais uma vez, não se trata do que nós podemos fazer por vocês. Trata-se do que podemos fazer com vocês. E tudo baseado em respeito geral, respeito que algumas vezes esteve em falta nos últimos 150 anos.
Nenhuma região do mundo é mais importante para a segurança e a prosperidade dos Estados Unidos do que este continente. É do nosso interesse ver o continente atingir todo o seu potencial. É por isso que uma de nossas prioridades é aumentar a cooperação econômica de alto nível e alavancar nossas relações comerciais em toda a região. Quase metade de nossas exportações – US$ 670 bilhões anualmente – vai para os países do continente.
É por isso que criamos programas para impulsionar o empreendedorismo, construir relações entre empresas e promover mais empresas pequenas e médias que gerem emprego e crescimento econômico. Isto não é um jogo em que um precisa perder para o outro ganhar. Quanto mais a região cresce, quanto mais ela prospera, melhor nós ficamos no continente e também nos Estados Unidos. É nosso interesse genuíno ver isso acontecer, além de ser a coisa certa a fazer.
É por isso que nos comprometemos a aumentar as oportunidades educacionais e o intercâmbio de estudantes por meio de iniciativas como a 100 Mil Unidos pelas Américas, que permite a jovens talentos de todas as nossas nações aprender juntos, aprender uns com os outros e frequentar as maiores universidades de pesquisa do mundo. Isso soa como chauvinismo, mas é um fato – a maior concentração de universidades de pesquisa no mundo inteiro, porque o presidente Eisenhower foi inteligente quando tentamos reorganizar nossos esforços de pesquisa e decidimos que eles não deveriam ficar todos no governo. Deveriam ficar em universidades independentes.
É por esse motivo que defendemos uma abordagem sensata para a imigração – uma abordagem que nos permita proteger nossas fronteiras e, ao mesmo tempo, proporcionar oportunidades para que 11 milhões de imigrantes ilegais saiam das sombras e contribuam, o que eles já estão fazendo, com sua quota justa e se beneficiem de suas contribuições a esta nação.
É por isso que decidimos mudar nossa política relativa a Cuba, que era ineficaz e um grande obstáculo às nossas relações bilaterais com vários países da região, em todo o continente. O restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba nos abriu mais espaço para fazer coisas na região. Agora ficou mais fácil para nós conversar com nossos vizinhos, cooperar com eles e falar abertamente, sem ofender, sobre direitos humanos. Todo mundo no continente deveria falar sobre direitos humanos – seja em Cuba, na Venezuela ou em qualquer lugar onde eles são negados de forma esporádica ou sistemática.
Ao mesmo tempo, deixamos claro que apagar o último vestígio da Guerra Fria nas Américas não significa abandonar nosso compromisso com os direitos humanos. Pelo contrário, como eu disse, esperamos que nossos parceiros na região fiquem do nosso lado e condenem os abusos que desafiam nossos valores democráticos mais básicos onde quer que eles ocorram.
Então, estou otimista quanto ao futuro da região. Poderemos ver as possibilidades existentes se continuarmos na direção certa.
E também estou otimista quanto à complexidade – não sou ingênuo a respeito da complexidade dos desafios que ainda persistem.
Mesmo hoje aqui reunidos, estamos vendo grandes mudanças políticas em toda a região. No Brasil, o povo realmente fez isso ao seguir sua Constituição para atravessar um período de dificuldades políticas e econômicas, respeitando os procedimentos estabelecidos para efetuar a transição de poder.
Os Estados Unidos continuarão a trabalhar em estreita colaboração com o presidente Temer durante este período em que o governo brasileiro enfrenta seus desafios mais prementes, porque o Brasil é e continuará sendo um dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos na região. Isso porque, nas democracias, a parceria não se baseia em dois líderes, mas sim em uma relação duradoura entre dois povos.
Na vizinha Venezuela, no entanto, estamos vendo o governo retomar táticas repressivas em violação à sua própria Constituição – táticas que desrespeitam a Carta Democrática Interamericana, que diz claramente: “Os povos das Américas têm direito à democracia, e seus governos têm a obrigação de promovê-la e defendê-la.”
Na semana passada, centenas de milhares de venezuelanos reuniram-se em Caracas para exigir seu direito constitucional a um referendo revogatório presidencial. Essas vozes não devem ser ignoradas. Um referendo revogatório deve ocorrer até o fim deste ano, e a Constituição venezuelana deve ser respeitada. E os presos políticos devem ser libertados.
Os Estados Unidos estão prontos para trabalhar com todos os seus parceiros da região com o intuito de facilitar um diálogo entre governo e oposição que ajude a melhorar a vida do povo venezuelano.
Ao mesmo tempo, também há pontos muito positivos – como a incrível transformação que está ocorrendo e incorpora uma enorme promessa na Colômbia. O povo colombiano demonstrou grande coragem e determinação para superar mais de cinco décadas de conflito esmagador e tirar seu país da beira do colapso econômico.
Líderes sucessivos fizeram escolhas difíceis para colocar o bem-estar do povo colombiano em primeiro lugar. E graças a essa força moral, o governo colombiano e as Farc chegaram a um acordo que oferece esperança de paz. Ressalto: esperança de paz.
Sabemos que um acordo assinado não será o fim, mas apenas a próxima fase na difícil jornada da Colômbia pela paz duradoura.
A implementação será complicada e custará caro. É por isso que os Estados Unidos prometeram uma ajuda inicial de mais de US$ 390 milhões para o plano de paz colombiano.
E, juntos com a comunidade internacional, continuaremos a apoiar o povo colombiano na construção de um novo futuro. Existe uma promessa verdadeira. Um bocado de trabalho, mas uma promessa real.
Estamos vendo também um impulso positivo na Argentina, onde o presidente – novo presidente, a propósito – preparou uma agenda de reformas para que a Argentina retorne à comunidade financeira internacional.
E a parceria revigorada entre Argentina e Estados Unidos já abriu portas para a melhora da segurança, o incremento do comércio e do investimento e o fortalecimento da cooperação entre as duas nações no setor energético.
Portanto, este é um momento crucial para a região. Uma situação crítica, marcada por oportunidades e desafios reais.
As escolhas que fizermos agora definirão o caráter do nosso continente no restante deste século. Por isso, no resto do meu tempo aqui hoje, gostaria de focar em três áreas nas quais, acredito eu, se fizermos a coisa certa poderemos acelerar nosso progresso e melhorar a vida das pessoas em todo o continente.
Primeiro, nenhuma democracia pode se sustentar sem crescimento econômico. E o crescimento econômico não pode prosperar sem Estado de Direito.
Isso não é um julgamento moral por parte dos Estados Unidos. É uma espécie de nova física das relações econômicas. As empresas não investem em nações onde as regras não sejam transparentes e previsíveis, onde o sistema judiciário não seja justo, onde a propriedade intelectual não seja protegida. Portanto, é absolutamente crucial erradicar os significativos vestígios de corrupção remanescentes nos países onde os governos funcionaram por tempo demais por meio de suborno e tráfico de influência.
A corrupção é um câncer que devora o corpo político, dilacera o tecido de qualquer sociedade onde se prolifera, promovendo a desigualdade e exaurindo bilhões de dólares do governo que poderiam ajudar a alimentar crianças, construir escolas, melhorar a infraestrutura e aumentar significativamente a capacidade de segurança.
A corrupção propicia e incita abusos contra os direitos humanos, abastece o crime organizado, semeia instabilidade no país onde prevalece e também na região.
Esses problemas alimentam uns aos outros, e os Estados Unidos, entre outros países, estão tentando ajudar seus parceiros a adotar as medidas duras, mas necessárias, para cessar o ciclo de corrupção onde ele existe.
Junto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e outros parceiros, apoiamos os esforços para melhorar o ambiente empresarial – mais transparência, eficiência nos procedimentos aduaneiros, aprimoramento da cobrança de impostos. Representantes do Departamento de Justiça estão auxiliando as autoridades locais nas investigações para combater o crime organizado. Enviamos assessores de segurança para ajudar a treinar as forças de policiais civis a respeitar os direitos humanos e auxiliar os promotores para que as pessoas possam confiar no Estado de Direito. Onde não haja impunidade. Onde não haja impunidade.
Isso está ganhando força em toda a região. Temos visto cidadãos que antes estavam nas sombras tornarem-se ativistas. Temos visto promotores e juízes corajosos perseguir autoridades corruptas e começar a provar ao povo da região que ninguém está acima da lei.
Na Guatemala, por exemplo, o procurador-geral, trabalhando com a Comissão Internacional da ONU contra a Impunidade, desmantelou redes criminosas, processou autoridades militares e até acusou o ex-presidente e a ex-vice-presidente de corrupção. Quando estávamos fazendo o que eles chamaram de uma versão do Plano Colômbia, o presidente em exercício não queria manter a Cicig. Fizemos disso uma condição. Ou vocês a mantêm ou não obterão ajuda, a própria instituição internacional que ajudou a derrubar um sistema corrupto – que começou a derrubar um sistema corrupto.
Insistimos para que o mandato da comissão fosse renovado, com o objetivo de gerar confiança nas instituições da Guatemala e continuar com seu bom trabalho.
E quando a Guatemala elegeu Jimmy Morales, um ex-comediante, por sua promessa de fazer uma limpeza no governo, peguei um avião e fui até lá assistir à sua posse.
Durante seu discurso… e olhem que estive muitas posses. Aliás, ao ouvir a descrição que Carla Hill fez de mim, pensei: meu Deus, não posso ser tão velho. (Risos.) Eles devem estar falando de outra pessoa.
Por falar nisso, houve um grande jogador americano de beisebol chamado Satchel Paige. Ele era um afro-americano que não podia ir para “as grandes ligas” enquanto não tivesse 45 anos. São dez anos a mais que o apogeu de qualquer arremessador. Em seu 47o aniversário, ele conseguiu uma vitória com seu arremesso. A imprensa amontoou-se no vestiário para dizer: Satch, você obteve uma vitória aos 47 anos, isso nunca aconteceu antes. Como se sente a respeito de seu aniversário hoje, Satch?
Ele disse: “Caras, não é assim que eu encaro a idade.”
E eles perguntaram: “Então, como você encara a idade?”
Ele olhou para trás e disse: “Caras, eu vejo assim: Que idade você teria se não soubesse quantos anos tem? Eu tenho 42.” (Risos.) “E estou olhando para um público de alunos de faculdade.”
Mas, deixando as brincadeiras de lado, estive em muitas posses, e o presidente Morales fez uma coisa surpreendente. Quando tomava posse, ele pediu ao público e a todos os cidadãos que assistiam à cerimônia em casa que se levantassem, colocassem a mão direita sobre o coração e prestassem juramento junto com ele. Um juramento para combater a corrupção e colocar a Guatemala em primeiro lugar.
Alguns pensaram que era só encenação, mas era mais que isso. Foi uma ruptura histórica significativa com o passado por parte de um presidente no dia em que tomou posse. Foi o reconhecimento de que ele não pode fazer isso sozinho, que todos têm de contribuir. E foi um sinal poderoso de que a região está começando a mudar.
O segundo ingrediente importante para o crescimento econômico depende da garantia de obtenção de energia confiável a preços acessíveis. Quando não se pode acender a luz, não há como ganhar a vida. Quando não se pode acender a luz, as empresas não se promovem na região.
Os estudantes não atingem todo o seu potencial quando não podem estudar depois de anoitecer ou se conectar à internet. As economias não crescem quando não se pode acender a luz.
É por isso que a segurança energética da região tem sido uma prioridade do nosso governo desde o início. E este é o momento de consolidar a segurança energética de forma sustentável para que a região possa estar preparada para enfrentar uma nova e inevitável alta dos preços voláteis do petróleo.
A boa notícia é que, graças à abundância de gás natural e recursos de energia limpa e renovável na América do Norte, a América do Norte é agora o epicentro da energia do século 21. Não a península da Arábia Saudita. Não a Venezuela. Não a Nigéria. Não a Rússia. A América do Norte. América do Norte: México, Estados Unidos e Canadá. Isso nos dá uma enorme oportunidade de mudança. E os Estados Unidos são agora um exportador líquido.
No começo deste ano, inauguramos um novo terminal de exportação de gás natural liquefeito. A primeira carga saiu da Louisiana para o Brasil em fevereiro. E agora que a nova ampliação do Canal do Panamá está em pleno funcionamento, as oportunidades são ainda maiores para suprir as necessidades energéticas de nossos parceiros na América Latina e no mundo, se fizermos investimentos inteligentes para modernizar nossa infraestrutura, acomodar os navios pós-Panamax e comprar novos cargueiros de GNL.
No Caribe, onde os custos da energia são os mais altos do continente por causa da dependência da importação de petróleo, isso pode representar uma mudança no jogo. Estive com líderes caribenhos duas vezes este ano para ajudá-los em seus esforços de transição para uma energia mais limpa e a custos mais acessíveis. É por isso que lançamos a Iniciativa Segurança Energética Caribenha em 2014. E, desde então, temos visto avanços importantes para diversificar o fornecimento de energia das ilhas e começar a reduzir os custos – um novo acordo para exportar gás natural para a Jamaica; um novo acordo de compra de energia geotérmica em Nevis; novos acordos financeiros e usinas de energia geotérmica em São Vicente e Granadinas; uma rede elétrica reestruturada nas Bahamas para acelerar a transição para um sistema de energia diversificado e moderno.
Na América Central, estamos investindo milhões no desenvolvimento do setor energético – inclusive ajudando os fornecedores regionais de eletricidade a elaborar planos de energia limpa e apoiando os esforços para maximizar o uso da linha de transmissão regional.
Nos últimos anos, vimos o volume de eletricidade comercializada através das fronteiras triplicar. Ao criar um mercado de energia regional, países como El Salvador, Honduras e Costa Rica estão reduzindo seus custos com a importação de eletricidade dos países vizinhos, em vez de acionar suas próprias usinas térmicas.
Isso é fundamental porque, se os países da América Central trabalharem juntos, a região pode ser um canal de ligação para todo o continente – integrando e conectando os mercados de energia dos Estados Unidos e do México com os da Colômbia, do Peru e de outros países.
E na América do Sul, estamos trabalhando com parceiros da Argentina ao Chile e à Colômbia para incrementar o uso da energia renovável e promover o desenvolvimento seguro e responsável de recursos não convencionais de petróleo e gás.
Mais de 34 milhões de pessoas na região ainda não têm acesso à eletricidade. Se voltarmos um pouco no tempo e considerarmos o New Deal, o fator fundamental da mudança de jogo para os Estados Unidos da América foi a Associação do Vale do Tennessee [sic], que levou eletricidade para o interior da região Sul, transformando os Estados Unidos – a economia americana.
Com escolhas e investimentos inteligentes em energia e infraestrutura, podemos criar a mesma oportunidade para a região. Podemos lançar as bases de um futuro de segurança energética que vai melhorar o destino das pessoas em todo o continente.
E isso me leva ao terceiro ponto. Por tempo demais, a América Central ficou de fora da história da ascensão da América Latina. A América Central é o elo que une a nossa região – Norte e Sul. Mas é também o centro de muitos dos nossos maiores e mais importantes desafios regionais – insegurança energética, corrupção, pobreza esmagadora, violência endêmica, carência de sistemas educacionais, crime transnacional.
Vimos claramente o custo humano desses problemas há exatos dois anos, quando milhares de menores desacompanhados da América Central chegaram à nossa fronteira sul. Só há um motivo para que pais enviem seus filhos em uma jornada precária, longa e perigosa, nas mãos de coiotes ou no fundo de um vagão: o desespero.
O que os nossos nativistas não entendem – assim como seus pais, avós, bisavós, tetravós – é que não é como se um grupo de pessoas estivesse sentado em volta de uma mesa rústica de madeira tomando um café da manhã minguado e alguém dissesse: sabem de uma coisa, tive uma ideia. Vamos vender tudo o que temos. Vamos dar o dinheiro para um coiote ou uma organização criminosa. Eles vão nos levar através da fronteira e nos largar no meio de um deserto de um país que diz que não nos quer lá, que fala um idioma que não conhecemos. Não vai ser divertido? Vamos!
Isto não faz parte do meu discurso. Mas devo acrescentar aqui. Uma das razões de sermos o país mais inovador do mundo é termos uma corrente ininterrupta de imigrantes muito especiais, os mais corajosos, mais inteligentes, mais aventureiros, mais otimistas, porque é preciso uma enorme coragem para tomar a decisão e partir. E eles são as pessoas que causam a maior perda consequencial para o próprio país, pois seu espírito é o de: “Eu vou correr o risco para que a minha família tenha uma vida melhor”. Foi isso que construiu os Estados Unidos da América.
É por isso que somos o país mais singular do mundo. Não se pode definir um americano com base em religião, etnia e raça. É uma atitude. É uma atitude. (Aplausos.)
É por esse motivo, portanto, que o nosso governo adotou uma abordagem de duas vias – oferecendo alívio aos que estão em perigo imediato e instituindo esforços de longo alcance para solucionar os fatores determinantes da migração. Ficou mais fácil para as pessoas vulneráveis da América Central serem consideradas para o programa de reassentamento enquanto permanecerem na região, em vez de fazer aquela jornada perigosa para o norte. Se forem qualificadas, poderão chegar aqui em segurança. Se não se qualificarem, o melhor seria que não tivessem feito essa viagem em primeiro lugar. É muito perigosa.
Apoiamos as Nações Unidas e a Costa Rica na elaboração de acordos para estabelecer abrigos temporários para refugiados que fogem da violência, de modo que possam aguardar em segurança enquanto passam pela triagem e os processos necessários para o reassentamento.
E trabalhamos em estreita colaboração com nossos parceiros da região para aprimorar sua própria gestão de fronteiras, inclusive nas fronteiras do norte e do sul do México. O México deu um passo à frente e assumiu um compromisso.
Eu estava com uma das autoridades do país, de quem não direi o nome neste momento, e ela disse: o problema é que as pessoas estão cruzando a fronteira no sul. Elas estão ficando no México.
Eu disse: prosperidade é “fogo”, não é? (Risos.) É realmente difícil.
Mas a verdade é que estamos garantindo às pessoas que reivindicam status de refugiado o direito à total consideração legal nos termos das normas internacionais.
Mas nosso objetivo principal é que as pessoas da América Central construam um futuro de esperança e prosperidade em seu próprio país, para que nunca precisem tomar essa decisão. Para que nunca tenham de escolher entre os perigos de permanecer no próprio país e os perigos de tentar migrar para o norte.
É por isso que montamos uma estratégia abrangente com nossos parceiros no Triângulo Norte – Guatemala, Honduras e El Salvador – a Aliança para a Prosperidade, a fim de ajudá-los a lidar com as dinâmicas que os deixaram para trás por tanto tempo. Não sei quantas vezes estive na região e eles me disseram: “Bem, você fez o Plano Colômbia quando era senador. Precisamos de um Plano Colômbia para a região.”
E a nossa resposta foi: “Saibam que para cada dólar destinado pelos Estados Unidos ao Plano Colômbia, a Colômbia destinava US$ 10.” A liderança política colombiana tomou algumas decisões muito perigosas e importantes para que o plano desse certo. E, assim, tivemos várias, várias reuniões – reuniões detalhadas.
Eu tinha má reputação por querer saber dos detalhes. Falo isso sinceramente. Portanto, não é mais um discurso exortatório. Qual será exatamente o compromisso de vocês? Quando vocês vão mudar as práticas policiais corruptas nos cinco bairros que existem fora de A, B ou C? Quando vocês vão investigar aqueles policiais e nos deixar ajudá-los a investigar? Vocês vão mudar seu sistema judiciário, etc.?
E com base em uma série de compromissos firmes com datas absolutas atreladas e a importante ajuda do Banco Interamericano de Desenvolvimento, pudemos convencer o Congresso dos Estados Unidos a empenhar outros US$ 750 milhões, além dos quase US$ 400 milhões que vocês já estão gastando.
Mas quero ser extremamente claro: esse é um acordo negociado entre nossos países para ajudar a eliminar a corrupção, obter transparência, reformar os governos para que a economia possa crescer e reforçar a segurança nos termos de igualdade de aplicação da lei. Esses são os critérios que precisam existir antes que se possa aproveitar o enorme potencial desta região.
Como disse, eu me reuni – passei muitas horas com os presidentes do Triângulo Norte. Nós já nos reunimos três vezes somente este ano e vamos nos reunir de novo este mês. E essa é uma via de mão dupla. Eles também estão prometendo US$ 2,6 bilhões do próprio dinheiro este ano para cumprir a promessa de prosperidade, segurança e governança.
Ainda há muito a ser feito. Sei que existem muitos céticos. Sei que existem muitos céticos. Aliás, posso dar o nome de 200 deles no Congresso. (Risos.) Mas eles confiaram na minha palavra, foram em frente e fizeram o acordo – condicionando o que vamos fazer a compromissos concretos.
Na área da segurança, algumas das iniciativas que instituímos já estão gerando benefícios para o povo da região.
Por exemplo, na Guatemala e em Honduras… na Guatemala e em El Salvador, para proporcionar segurança genuína a todos os cidadãos, eles estão agora investigando os departamentos policiais corruptos – investigando tudo – aliás, foi o que fizemos na Colômbia – investigando todas essas unidades e instituindo programas de policiamento comunitário em bairros que nunca viram um policial. Locais onde nunca houve segurança proporcionada pelo governo. Isso gera um sentido maior de comunidade e de compromisso dentro do próprio país. E instila mais confiança na honestidade e isonomia das organizações policiais. O caminho ainda é longo, mas é a primeira vez em meus 35 anos que vejo algo assim pelo menos começar.
Vamos ajudar a erradicar as redes criminosas transnacionais que controlam o contrabando de drogas, o tráfico de pessoas e o crime financeiro. Já temos um programa importante de dezenas de milhões de dólares. Mas estamos reforçando esse investimento.
E para ter êxito, temos de envolver grupos da sociedade civil, os órgãos de aplicação da lei, a comunidade empresarial e os cidadãos individuais. Eu me lembro do primeiro, há muitos anos, quando o presidente me pediu para assumir essa responsabilidade, eu estive com o presidente e o secretariado de um desses três países – não vou dizer o nome do país – e disse que queria me reunir com a sociedade civil. Eles responderam: “Opa, opa, opa, espera um pouco. O que eles têm a ver com isso?”
Eu me reuni com as câmaras de comércio. Os empresários nesses países diziam o que tínhamos de fazer. Eu disse: “Onde diabos vocês estão investindo seu dinheiro? Vocês não estão pagando imposto? Onde vocês estão investindo seu dinheiro?”
Quando a empresa X, Y, Z de Guatemala, Honduras, El Salvador investir em El Salvador, Guatemala, Honduras em vez de investir nos Estados Unidos ou na Europa, aí então vocês podem começar a mudar o ambiente para que as empresas americanas que queiram participar digam: “Sim, faz sentido investir aqui”.
Todo mundo, inclusive nós, os Estados Unidos, tem de lutar por um futuro melhor na região.
Sei que a imprensa vive ressaltando que eu sempre cito poetas irlandeses. Eles acham que eu faço isso porque sou irlandês, o que eu sou. Mas não é essa a razão. Cito os poetas irlandeses – com o devido respeito a todos vocês – porque eles são os melhores poetas do mundo. (Risos.) Essa é a razão. O secretário sabe disso.
Mas uma das minhas citações favoritas sobre nós irlandeses foi escrita por James Joyce. E ele escreveu o seguinte. Ele disse: “A história é um pesadelo do qual tento acordar.”
Quem conhece a história do povo irlandês sabe o que ele quis dizer. A história é um pesadelo do qual tento acordar. Há milhões de pessoas no continente tentando acordar do pesadelo de governos que tiveram de aguentar durante todo o século passado. Nós podemos ajudá-las a acordar para dias melhores e, por outro lado, fazer com que o nosso futuro seja muito melhor também.
Mas creio que hoje estamos às vésperas de uma nova era para o povo do continente – nosso continente. Nosso continente não pode mais ficar acorrentado pela história. Não devemos hesitar em trabalhar juntos, em sonhar grande. Nossas relações na região estão mais fortes que nunca. Mas esse avanço ainda é frágil. E todos vocês sabem disso. Vocês sabem melhor que eu, muitos de vocês. E é preciso um compromisso sustentado de todas as partes, em particular dos Estados Unidos. Não podemos construir um muro para nos proteger de problemas que não são contidos por fronteiras – a ameaça de doenças transmissíveis como a zika, o tráfico de drogas e as mudanças climáticas. Nenhum muro pode ser construído. Nenhum que consiga fazer isso. (Aplausos.)
Esses desafios só serão superados com uma mudança de atitude e todo mundo fazendo sua parte e cooperando mais com padrões de comportamento fundamentais básicos. E as oportunidades que temos cultivado podem escapar se não conseguirmos honrar nossos compromissos, se tivermos de sair da região.
Só aproveitaremos as incríveis oportunidades deste século… Só realizaremos todo o potencial deste continente se ficarmos nele. Pedimos aos nossos amigos um comportamento adequado e nos comprometemos – com base em nossa capacidade, que é imensa – a ajudá-los no que for necessário.
Com isso, só vamos crescer juntos. Isso soa como chavão. Mas é literalmente verdade. Isso é do interesse dos Estados Unidos e do povo americano. E temos trabalhado por isso todo o santo dia desde que este governo tomou posse.
E é isso que continuaremos fazendo todo dia até nossa saída em 21 de janeiro. E, se Deus quiser, seremos sucedidos por uma mulher que tem essa mesma visão. (Aplausos.)
Portanto, obrigado a todos, e eu termino onde comecei. Vocês fizeram uma diferença gigantesca. As pessoas nesta sala fizeram uma diferença gigantesca – levando-nos ao ponto que eu considero como apenas, sinceramente, o começo – o começo de um potencial enorme.
Que Deus os abençoe e proteja nossos soldados. Muito obrigado (Aplausos.)
FIM 15h20 (horário de verão da Costa Leste dos EUA)