Secretário de Estado John Kerry Após Reunião com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil José Serra

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‎Palácio do Itamaraty‎
Rio de Janeiro, Brasil

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES SERRA: Boa tarde. Quero começar por dizer que a visita do Secretário John Kerry e a reunião muito produtiva que acabamos de ter podem representar o primeiro passo de uma nova fase no relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos. Elas podem representar, e eu estou certo disso, estou confiante que elas vão representar [o primeiro passo].

A proximidade entre os EUA e o Brasil é reforçada pelo compromisso de cooperação e diplomacia do Presidente Obama, e até mesmo autocrítica do apoio dos EUA no passado às ditaduras na América Latina que ele declarou publicamente. Na mesma linha, o Presidente Democrata tem defendido o fechamento da prisão de Guantánamo e restabeleceu relações diplomáticas com Cuba, começando a levantar o embargo econômico imposto na ilha décadas atrás. Estas são posições progressistas e muito significativas, que, historicamente, eu diria, têm imensa importância.

A posição do Presidente Temer, por outro lado, de uma relação aberta e madura entre nossos dois países nos ajuda a construir uma parceria sustentável entre nós. Nossas visões – Brasil e Estados Unidos – as nossas visões e interesses convergem em muitas áreas, é importante enfatizar este ponto, como o desenvolvimento sustentável, em que o Brasil está na vanguarda do mundo, juntamente com os Estados Unidos; direitos humanos, defesa da democracia, cooperação em educação, saúde, ciência e tecnologia.

Eu estou pessoalmente empenhado na promoção e proteção dos direitos humanos e da democracia. E, como Ministro de Relações Exteriores, vou me esforçar para que o Brasil se torne mais ativo e proativa nestas questões, incluindo a busca de parcerias com países amigos nessas áreas, tais como os Estados Unidos.

Nossas nações também compartilham o objetivo de expandir o comércio bilateral e os investimentos, a fim de gerar mais e melhores empregos. Esta é uma prioridade clara para o governo brasileiro e para o meu trabalho à frente do Itamaraty. Eu estou diretamente envolvido, como todos sabem, no fortalecimento da agenda de comércio exterior do Brasil. E, foi com prazer que comemoramos na semana passada a abertura de nossos mercados para as exportações de carne in natura, que contou com a forte colaboração da Embaixadora dos EUA no Brasil. Eu considero este acordo, conduzido no lado brasileiro pelo Ministro da Agricultura Blairo Maggi, como um sinal muito positivo que promete avanços nas futuras negociações em outras áreas.

A interconectividade econômica entre os Estados Unidos e o Brasil é impressionante. Realmente, eu quero compartilhar alguns números com você. O volume do comércio é da ordem de US$50 bilhões. A qualidade deste comércio é boa para ambos os países. Por mais incrível que possa parecer, setenta e cinco por cento das nossas exportações para Estados Unidos são bens manufaturados; um fato que talvez seja surpreendente para aqueles que não seguem de perto essas questões. E, isso aumenta o valor das nossas exportações e gera mais empregos. E, além disso, os Estados Unidos são o maior investidor estrangeiro no Brasil, com US $ 116 bilhões em ações de investimento. Agora, os investimentos brasileiros nos Estados Unidos aumentaram de US $ 7,3 milhões em 2009 para US $ 22,4 bilhões em 2014, triplicando durante esse período. Em 2000, para cada dólar investido nos Estados Unidos por empresas brasileiras, US $ 47 foram investidos por empresas americanas no Brasil. Em 2014, essa relação caiu para três. Ou seja, para cada dólar investido nos Estados Unidos, US $ 3 foram investidos aqui. A proporção diminuiu significativamente. Isto também mostra uma força em potencial interessante para a economia brasileira

E, nossa tarefa agora é concentrar o [nosso] trabalho nas prioridades mutuamente acordadas. Em certas áreas, seremos capazes de alcançar resultados de curto prazo, como conseguimos com a carne e com a aprovação do acordo Céu Aberto no Congresso Nacional ou na negociação de áreas de facilitação do comércio, que tem um enorme potencial para a expansão comercial e, portanto, insisto, para a geração de empregos. Em outros setores, vamos trabalhar para alcançar resultados de médio prazo, em áreas como defesa, em parcerias com o setor privado para investimentos em infraestrutura que esperamos vão atrair investimentos de todo o mundo, incluindo dos Estados Unidos, que têm maior volume, ou mesmo nas negociações sobre dupla tributação e investimentos.

Eu também gostaria de agradecer, em nome do Presidente Temer, pela confiança do Governo dos EUA na força das instituições políticas e jurídicas do Brasil que, no meu ponto de vista, são exemplos de maturidade na condução do processo de impeachment atual.

Por fim, eu gostaria de agradecer ao secretário John Kerry pela conversa excelente, franca e produtiva que acabamos de ter, agradecer-lhe por sua visita, e desejar o sucesso da equipe americana nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Eu também gostaria de reiterar ao Governo dos EUA e ao povo americano que desejamos [a vocês] grande sucesso nas eleições presidenciais de novembro. Não há necessidade de dizer em quem eu votaria, mas vocês podem imaginar. Muito obrigado.

SECRETÁRIO KERRY:  Diplomacia apolítica. Obrigado, José. Pessoalmente, estou muito, muito contente por estar de volta ao Brasil – boa tarde – e obrigado por sua generosa recepção e pela oportunidade de poder realizar o encontro e a conversa. Eu quase me sinto culpado de apenas algumas horas antes da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de nos reunirmos como o fizemos, mas eu acho que nós dois sentimos que esta era uma oportunidade muito importante, um momento muito importante, e o Brasil e os Estados Unidos têm muito para conversar e muito a fazer juntos. Então, nós queríamos aproveitar isso. Eu também tenho grandes memórias da minha primeira viagem aqui para o Rio. Eu vim em 1992, para a Cúpula da Terra e passei vários dias aqui durante o curso deste evento e também pude desfrutar como olhar para a vida um pouco melhor depois de uma caipirinha. Foi muito bom. (Risos.)

Estamos cooperando muito com nossos amigos no Brasil sobre as questões de uma Olimpíada segura, protegida e sólida. Estou confiante de que será. Eu acho que foi feito um esforço muito grande para que isso aconteça, e eu quero parabenizar o Brasil por seus esforços extraordinários e esperamos uma Olimpíada emocionante.

Como Secretário de Estado, tenho visto como o esporte une os países. Esta manhã, tive a oportunidade de fazer uma visita à nossa equipe – algumas de nossas equipes, nossa equipe de atletismo, e você podia sentir a energia destes jovens e da emoção que eles têm em encontrar outros jovens de outros países, de outros modos de vida, outras culturas. Esse é o poder da Vila Olímpica. É o poder dos próprios Jogos Olímpicos, que em um momento de divisão e conflito em nosso mundo, é bom para nós pensarmos no significado sob a competição, que os Jogos Olímpicos devem ser um unificador e um lugar onde podemos deixar de lado os distúrbios da política diária e da vida entre países, e descobrir e realmente viver um ideal. Eu acho que este é um momento no mundo em que as pessoas querem ideais e elas particularmente gostariam de vê-los concretizados.

Portanto, estou absolutamente certo de que o Brasil vai produzir não apenas um ótimo local de evento, mas uma grande Olimpíada. E no contexto desta diplomacia, gostaria de dizer para as pessoas que eu joguei futebol no Afeganistão. Eu vi jovens mulheres que querem praticar esportes no Afeganistão, lutando para poder ter todos os seus direitos. Eu sentei em uma quadra e joguei vôlei sentado com veteranos feridos na Colômbia. E eu tive a oportunidade de jogar um pouco de basquete em Chipre, com algumas crianças que faziam parte de um programa para unir os cipriotas turcos e cipriotas gregos na ilha. Eu vi o que esporte fez quando o Presidente Nixon enviou uma equipe de tênis de mesa para a China, e o Boston Celtics foram para a Rússia e Europa Oriental durante o curso da Guerra Fria na década de 1960.

Portanto, o esporte tem a capacidade de capturar a imaginação das pessoas e transcender os limites do gênero e nacionalidade, raça e credo, e é isso que torna este evento especial. E é por isso que muitos líderes de várias partes do mundo estão vindo aqui para celebrar este momento nos Jogos Olímpicos.

Então, gostaria de falar algo sobre o relacionamento bilateral dos Estados Unidos e do Brasil. Somos parceiros naturais em muitas maneiras diferentes, e nós realmente queremos aproveitar essa parceria. Eu acho que é apenas uma declaração honesta dizer que, ao longo dos últimos anos, as discussões políticas aqui no Brasil não permitiram a realização total, por assim dizer, do potencial desta relação. Continuamos comprometidos em trabalhar com o Brasil para combater a mudança climática global, por exemplo. E estamos ansiosos para, assim se espera, ver o Brasil aderir e ratificar o acordo de Paris que assinamos. Nós vamos nos unir à China e a outros na ONU em setembro para fazer com este acordo entre em vigor.

Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos também reconhecem a necessidade urgente de proteger nossos oceanos, nossos recursos marinhos, nossa pesca – protegê-los contra a acidificação resultante da mudança climática global, da poluição resultante de várias formas de desenvolvimento, e do excesso de pesca resultante da enorme demanda. E assim, temos a responsabilidade de fazer isso, e estamos ansiosos para trabalhar com o Brasil nesse esforço. Teremos uma conferência sobre os oceanos em Washington, nos dias 15 e 16 de setembro, e nós esperamos muito que o Brasil esteja lá, faça parte dessa conferência, para nos ajudar a exercer as nossas responsabilidades globais.

Além disso, conversamos hoje, esta tarde, sobre a cúpula de refugiados que o Presidente Obama vai realizar nas Nações Unidas. E, novamente, esperamos que novos e importantes compromissos sejam feitos nessa conferência, a fim de lidar com esta crise global que todos nós enfrentamos.

Também vamos cooperar para lidar com o desafio do vírus Zika, como fizemos todos juntos para lidar com o desafio do Ebola e outros desafios. E estou confiante de que juntos seremos mais fortes e conseguiremos responder a essas questões. Nós vamos criar vacinas melhores. Nós vamos criar outras tecnologias para com esses desafios.

Os Estados Unidos e o Brasil também, e José passou um bom tempo falando sobre isso. Nós também compartilhamos uma relação econômica muito importante, que ele descreveu. E ele e eu concordamos hoje que este é um relacionamento que tem um enorme potencial de crescimento. Queremos ter a oportunidade de trabalhar em conjunto a fim de aumentar nosso comércio bilateral de bens e serviços, e achamos que há muitas maneiras disponíveis para nós sejamos capazes de fazer isso. Eu também queria expressar o respeito que os Estados Unidos têm pelos esforços do Brasil na luta contra a corrupção, e vamos aprofundar a nossa colaboração conjunta em nossos interesses comuns para garantir que outros países sigam o exemplo com relação à sua luta, bem como seus esforços para manter a fé na democracia.

Conversamos sobre a Venezuela e a necessidade de o governo da Venezuela ser capaz de se reunir com a oposição, a fim de não colocar um partido acima do outro, mas para colocar o povo da Venezuela em primeiro lugar – que está sofrendo enormemente como resultado de sua economia, que tem contraído, e outros desafios – em vez de ver um desastre humanitário se desenvolver, esperamos ver um compromisso democrático mais forte e um cumprimento urgente das necessidades humanitárias do povo do país. Agradecemos ao Brasil por trabalhar conosco na Organização dos Estados Americanos. Precisamos continuar a criar uma dinâmica e enfatizar a importância de um referendo justo e oportuno, e a libertação de presos políticos e o respeito pelo Estado de direito e pelas liberdades de expressão e de reunião.

E para encerrar, gostaria de enfatizar que apesar dos desafios deste hemisfério em certas áreas, de maneiras diferentes, não temos dúvida de que a trajetória democrática compartilhada das Américas – as Américas em larga escala – é um exemplo vivo para outras regiões do mundo. Todos os dias, os povos do nosso hemisfério estão provando que a diversidade é um ponto forte, que a inclusão funciona, que a justiça pode superar a impunidade e dar um exemplo para as pessoas sobre o Estado de direito, e que proteger os direitos de qualquer indivíduo – independentemente de seu sexo, de sua orientação sexual, ou da sua opinião política – tudo isso – que respeitar isso é uma característica marcante de uma democracia genuína.

Então, em nome do Presidente Obama, eu só quero novamente agradecer ao Ministro das Relações Exteriores pela sua recepção calorosa, e agradecemos ao Brasil por sua parceria. O Brasil é uma potência global. Nós respeitamos isso, e vamos nos encontrar no G20; vamos nos encontrar em muitos fóruns onde temos uma habilidade para tentar encontrar pontos em comum e trabalhar juntos. E eu estou absolutamente confiante de que juntos vamos ter a capacidade de ser capaz de satisfazer os nossos interesses e viver nossos valores, e isso é a coisa mais importante de todas. Muito obrigado. Obrigado, Sr. Ministro. Bom estar com você. Obrigado, senhor.

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES SERRA:  (Em português)  Vamos encerrar aqui. Eu só quero reiterar o que eu mencionei durante meus comentários sobre o papel importante que a embaixadora dos EUA para o Brasil, Liliana Ayalde tem desempenhado – ela vai deixar seu posto em breve; vamos sentir falta dela – e a importância do futuro embaixador do Brasil nos EUA, Sergio Amaral, com o qual os EUA já concordaram, que será aprovado pelo Senado, e no final do mês assumirá suas funções em Washington, trabalhando para ajustar a nossa agenda. Muito obrigado.