Um novo patamar na relação Brasil-EUA

Artigo de opinião escrito pela Embaixadora Liliana Ayalde para o jornal Folha de S. Paulo e publicado no dia 16 de junho de 2015.

Após uma histórica Cúpula das Américas no Panamá, em abril, há um otimismo palpável no Ocidente. Pela primeira vez desde 1959, os presidentes de Estados Unidos e Cuba tiveram um diálogo significativo e, pela primeira vez, a cúpula contou com a participação formal de todos os 35 países do hemisfério.

Na ocasião, os líderes encontraram pontos em comum para um futuro compartilhado de oportunidades e desafios. Esse futuro nunca foi tão promissor quanto agora nas relações entre Brasil e EUA. Somos parceiros naturais. Os EUA se beneficiam de uma relação mais forte com o Brasil e o Brasil se beneficia de uma relação mais forte conosco.

Nesse sentido, estamos entusiasmados com a visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos em 30 de junho. Essa visita elevará nossa relação a um novo patamar trazendo benefícios que irão muito além dos nossos países.

Nossos presidentes definirão uma agenda comum para o futuro, que deve incluir cooperação sobre mudanças climáticas; aprofundamento do engajamento comercial; colaboração em ciência, tecnologia e inovação; acordos de defesa e segurança e intercâmbios técnicos e educacionais. A agenda está organizada em torno de três pilares: intercâmbio de pessoas, prosperidade e parcerias.

Intercâmbio de pessoas: A crescente relação entre Brasil e Estados Unidos é definida tanto pelas interações entre nossos povos como por atividades oficiais. Os intercâmbios educacionais, por exemplo, criam, ampliam e intensificam os laços entre brasileiros e americanos.

Os EUA se orgulham de terem recebido 33 mil brasileiros por meio do programa Ciência sem Fronteiras. Para ampliar o intercâmbio em ambas as direções, a iniciativa 100 Mil Unidos pelas Américas, do presidente Obama, incentiva americanos a aprender português e estudar no Brasil. Na visita da presidente Dilma, espero que possamos ter novos acordos que fortaleçam ainda mais nossa relação na área educacional.

Prosperidade: O comércio é um dos principais fatores que promove a prosperidade. Os últimos quatro anos foram marcados pelos mais altos níveis de comércio bilateral da história, ultrapassando US$ 100 bilhões anuais. Em 2014, os EUA foram o maior mercado para a exportação de bens manufaturados brasileiros, resultando em milhares de empregos qualificados e bem melhor remunerados no Brasil.

Os EUA também são a maior fonte de investimento estrangeiro direto no Brasil, com muitas de nossas empresas operando aqui há mais de um século. As empresas brasileiras também estão ampliando investimentos e parcerias nos EUA, fazendo com que a nossa relação econômica seja mutuamente benéfica, aumentando o crescimento econômico, empregos e oportunidades.

Mas queremos ir além. Trabalhando juntos de forma mais estreita, facilitando o comércio, cooperando em regulamentações comerciais, simplificando a realização de negócios, tanto aqui como nos EUA, poderemos alcançar e crescer mais.

Entre quinta (18) e sexta-feira (19), o Fórum de CEOs Estados Unidos-Brasil se reunirá em Brasília. Presidentes de empresas, americanos e brasileiros, formularão recomendações que serão apresentadas a Obama e Dilma antes da reunião em Washington. Nossos governos já estão trabalhando com as empresas participantes do fórum para propor iniciativas em áreas como energia, inovação e infraestrutura.

Parcerias: Brasil e Estados Unidos têm muito em comum e nenhuma divergência incontornável.

O leque de questões que podemos tratar juntos é diverso e sofisticado: mudanças climáticas; operações das forças de paz da ONU; segurança alimentar; pandemias globais; assuntos regionais, como Cuba e Venezuela; Irã, Síria e Coreia do Norte; direitos humanos; desarmamento e não proliferação; fóruns multilaterais, por exemplo, as Nações Unidas; defesa e segurança; e combate e desmantelamento de grupos terroristas, como o Estado Islâmico.

Acredito que quanto mais próximos do Brasil trabalharmos, quanto mais ampla e profunda for a nossa agenda, maior será a possibilidade de divergências. Mas estou confiante de que serão divergências saudáveis entre parceiros estratégicos.

O convite de Obama a Dilma reafirma a importância do Brasil para nós, como povo, economia, parceiro estratégico e líder global. O que o Brasil faz e diz é importante e repercute mundialmente. Essa visita é uma oportunidade para renovar e elevar essa relação vital e profícua.

LILIANA AYALDE é embaixadora dos Estados Unidos no Brasil.