Cooperação EUA-Brasil devolve sapos da Amazônia ao país 

Traficados ilegalmente para a Europa, animais são recebidos pelo Zoológico de São Paulo

São Paulo, 21 de setembro, 2020 – O U.S. Fish and Wildlife Service (FWS), unidade do Departamento do Interior dos Estados Unidos dedicado a preservar a vida selvagem, devolveu ao Brasil na última quarta-feira, 21 sapos da espécie AdelphobatesGalactonotus, conhecidos como “Sapos ponta-de-flecha” (“Splash-Backed Poison Frog”, em inglês).

Os animais haviam sido traficados da Europa para os Estados Unidos no final de 2017 e foram interceptados no aeroporto de Miami.   Agentes do FWS pediram aos especialistas do Animal Kingdom, da Disney, para cuidarem dos sapos durante as investigações e processos legais contra o importador, seguindo a Lacey Act – lei norte-americana que bane tráfico ilegal de animais silvestres.

“Estou muito orgulhoso do papel do FWS na devolução dessa espécie incrivelmente raro e protegida de coloração azul de sapos ponta-de-flecha”, disse o diretor-assistente do Escritório de Aplicação da Lei, Edward Grace.  “Essa incrível jornada aconteceu graças ao empenho de nossos inspetores do FWS e de nosso representante no Brasil, que trabalhou em conjunto com nossos parceiros federais, internacionais e privados. Graças ao trabalho de todos, esses sapos foram salvos do comércio ilegal de animais, cuidados pela Disney,  e então devolvidos à sua casa no Brasil, onde pertencem.”

O vice-presidente dos Parques da Disney de Animais, Ciência e Meio-Ambiente, Dr. Mark Penning, contou que: “na Disney, somos comprometidos com a proteção de animais silvestres pelo mundo.  Quando o FWS entrou em contato conosco, nos prontificamos a ajudar porque sabíamos que podíamos oferecer o melhor cuidado possível para esses sapos até que pudessem voltar para casa.”

Os sapos foram cuidados pelo Animal Kingdom por mais de dois anos e agora foram devolvidos ao Brasil para serem cuidados pela Fundação Parque Zoológico de São Paulo, instituição que possui expertise na manutenção e reprodução bem sucedida de anfíbios que integram programas de conservação pioneiros no mundo.  O local conta com 246 indivíduos de 11 espécies da Classe Amphibia, sendo duas delas classificadas como ameaçadas de extinção.

A operação é uma cooperação entre o FWS e autoridades brasileiras, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no combate ao tráfico internacional de animais silvestres.  Quando os sapos chegaram ao aeroporto de Miami, há cerca de dois anos, agentes do FWS, ao verificarem a documentação da importação dos animais, identificaram que se tratava de uma espécie endêmica de afluentes do Rio Amazonas.

O nome “ponta-de-flecha” vem do fato desses sapos pertencerem a um grupo cujas espécies secretam veneno por meio de sua pele como mecanismo de defesa.  Povos indígenas utilizam esse veneno em pontas de lanças e flechas para terem mais sucesso em suas caçadas de subsistência.

“Estou muito feliz que essa operação tenha dado certo. Muitas pessoas não sabem, mas o tráfico de animais silvestres é um mercado enorme. A Embaixada e os Consulados dos EUA no Brasil têm se engajado ativamente nessa área”, disse o Cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Adam Shub.

A retirada desses animais de seu habitat natural, sua comercialização e mesmo mantê-los em cativeiro sem a autorização expressa do IBAMA (geralmente, só concedida a instituições científicas) são proibidas pela lei brasileira. Esses animais também estão sob a proteção da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES).  O IBAMA é o executor da Política Nacional de Meio Ambiente e autoridade administrativa e científica da CITES.

“O Brasil é um dos cinco países megadiversos do mundo.  Esse tipo de iniciativa mostra a importância da adoção de medidas que visem à proteção dos animais e da cooperação bilateral para a efetivação de ações como essa”, disse o presidente do IBAMA, Eduardo Bim. “Estamos comprometidos com o combate incessante ao tráfico internacional de animais silvestres.”

Cuidados no Zoológico de São Paulo

Os animais permanecerão em quarentena por três semanas, onde passarão por acompanhamento de saúde e adaptação por meio de inspeção rotineira da condição clínica e de exames laboratoriais.

Os sapinhos serão acomodados em recintos que atendam às necessidades ambientais da espécie, tais como temperatura, umidade, substrato, abrigo e vegetação. Receberão diariamente dieta à base de insetos, como moscas-da-fruta e grilos, além de suplementação vitamínica. Após o período da quarentena, serão incorporados à população da espécie já presente no Zoológico de São Paulo, mas de cor diferente, e serão transferidos ao espaço educativo “O Pulo do Sapo”. Os novos moradores poderão ser apreciados pelo público assim que as questões referentes à pandemia permitirem a visitação com segurança em espaços fechados.

Geralmente, os anfíbios apresentam cores discretas que permitem a camuflagem no ambiente em que vivem. Mas esse não é o caso desses pequenos sapinhos venenosos que possuem colorações fortes e chamativas que funcionam como um sinal de advertência aos predadores de que não são apetitosos e que podem causar danos. A pele deles é coberta por toxinas que variam quanto ao tipo e intensidade de espécie para espécie. Os sapos devolvidos ao Brasil têm coloração azul (19) e laranja (2).

“Na última década, a Fundação Parque Zoológico de São Paulo tem dedicado seus esforços à proteção dos anfíbios. Além da educação ambiental e pesquisas científicas, a instituição desenvolve ações conservacionistas direcionadas às espécies criticamente ameaçadas de extinção, sendo as únicas iniciativas de conservação ex situ com anfíbios no Brasil até o momento”, disse o Diretor Presidente da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Dr. Paulo Magalhães Bressan. “Temos expertise no trabalho desenvolvido com anfíbios e assim que fomos acionados, aceitamos prontamente amparar os 21 sapos, participando do processo desde o início para trazê-los ao verdadeiro lar, o Brasil”, acrescentou Paulo.

No processo de tráfico desses animais para suprir a demanda do mercado ilegal, quase uma dúzia deles faleceu, e o destino de seus descendentes nunca será conhecido. O caminho trilhado por esses animais evidencia a importância de parcerias público-privadas, além da colaboração de órgãos internacionais no combate ao tráfico de animais silvestres e a proteção de espécies em risco de extinção.